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19/05/2019

CANTINHO DA SAUDADE

Imagem/Arquivo Pessoal
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Memórias do Carboni: Maria Fumaça

Eu tive o privilégio de andar no trem denominado Maria Fumaça. Era uma enorme máquina acionada por vapor que produzia fumaça, daí sua denominação popular. Naturalmente que isto acontecia a incontáveis anos atrás quando eu ainda era criança e a viagem foi curta, mas que eu usufrui daquele transporte considerado um dos mais avançados da época, disso eu posso me orgulhar. Se não me falha a memória, isto aconteceu em um sábado. Meu pai trabalhava no antigo Curtume Canta Galo e dentre as suas várias funções na firma, uma delas era preparar os produtos químicos usados em uma fase de curtição de couros. O químico chefe era o senhor Francisco Sevecih, que possuía uma fazenda na estrada vicinal de Penápolis para Glicério, depois da ponte sobre o Ribeirão Bonito. Uma pequena mata de sua propriedade havia pegado fogo, não sei dizer se o mesmo fora intencional ou não. Como a mata estava bem verde, ela não fora queimada totalmente, então o “seu” Chico quis aproveitar a lenha e chamou meu pai para fazer o serviço e como meu “velho” era muito trabalhador, aceitou o convite e de quebra me levou junto. De manhãzinha o “seu” Chico passou em minha casa e nos levou até a fazenda de caminhonete. De pronto começamos a trabalhar, meu pai na frente com um machado e eu amontoando o que ele cortava. Apesar do fogo não ter sido muito intenso, algumas árvores mais baixas e as de casca grossa estavam bem queimadas e dentro de pouco tempo estavam com as roupas e os braços bem sujos de carvão e até as nossas caras apresentavam alguns borrões pretos. Depois de um certo tempo comemos o almoço que tínhamos levado e após um breve descanso reiniciamos a labuta. Lá pelo meio da tarde meu pai disse que iríamos para o serviço porque o trem que iria em direção a Penápolis logo iria passar. O “seu” Chico já tinha avisado que não seria possível trazer-nos de volta e, portanto, teríamos de pegar o trem. Naquela época o traçado era o original e como a caldeira do trem demandava muita lenha e água, havia estações distantes poucos quilômetros uma das outras para reabastecimento. Só que este era apenas um dos motivos das estações serem numerosas. Era que a população era predominantemente rural e o trem era o meio de transporte mais usado (em muitos casos era o único), para transporte de pessoas, de animais e vários tipos de cargas. Em linha reta a distância entre Penápolis e Glicério é de poucos quilômetros, mas o sinuoso traçado férreo triplicava essa distância e nesse trecho havia duas estações denominadas de Bonito e Napoleão. E foi para a estação de Napoleão ali perto que nos dirigimos e eu na maior ansiedade. Já na plataforma vimos aquela enorme máquina preta, barulhenta e fumegante vir se aproximando e parar a nossa frente. Seus freios produziam um som estridente como que esfregando um ferro em outro. Podíamos sentir o calor daquela maravilha que repetidamente soltava grandes baforadas de fumaça. Subimos naquela “coisa” e meu pai disse que estávamos sujos para nos sentarmos nos bancos e a viagem seria curta, por isso, ficamos em pé perto da junção de dois vagões. Me recomendou ainda que eu me segurasse bem porque sempre havia algum perigo de cair, já que os chacoalhões e trancos eram uma constante. Essa preocupação de meu pai nem seria necessária porque instintivamente eu já havia me atarracado a uma peça de ferro que para eu cair, a tal peça teria de cair junto. A velocidade do trem não era constante e os vagões iam batendo um no outro e eu ali preocupado que nem notei quando passamos por Bonito. Só fiquei aliviado quando chegamos em Penápolis. Muitos anos depois as máquinas foram substituídas por outras mais modernas movidas a diesel, outros meios de transportes foram desenvolvidos (carros, motos, ônibus), novas estradas de terra foram construídas e o povo começou a migrar para as cidades e as estações perderam sua utilidade. A linha férrea foi retificada e o novo traçado deixou de passar por aquela região. Os proprietários de terras cercaram o antigo leito ferroviário e, legalmente ou não, tomaram para si aquilo que era do governo. Desmancharam as estações e os poucos moradores que restaram, bem como os seus descendentes nem sabem o local em que elas estavam. Os móveis, objetos e aparelhos usados no dia-a-dia pelos funcionários também sumiram. Aqueles lugares onde havia uma intensa presença humana se transformaram em solitários canaviais.

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