PAN: Solonei, orgulho penapolense

DA REPORTAGEM

Duas horas, 16 minutos e 37 segundos, este foi o tempo que o penapolense Solonei Rocha da Silva levou para realizar o sonho de conquistar a medalha de ouro na maratona dos Jogos Pan-Americanos. A medalha se torna ainda mais especial, pois o esporte mudou sua vida, deixando de ser coletor de lixo há dois anos, para se tornar atleta conhecido em todo o Brasil, e em muitos países do mundo. Em Guadalajara, no México, Solonei participou de sua terceira prova de grande distância, conseguindo um feito histórico. O novo medalhista brasileiro percorreu os mais de 42 quilômetros com tranquilidade na tarde de domingo, 30, no horário brasileiro. O maratonista estava realizando uma corrida modesta, porém, ao completar 20 quilômetros do percurso, começou a se distanciar do principal pelotão, ficando à frente de todos os outros competidores, conseguindo terminar a prova com boa diferença em relação aos demais corredores. Ao cruzar a linha de chegada Solonei fez questão de expor a Bandeira Nacional e carregá-la com orgulho. O comentarista da TV Record vibrou com a chegada de Solonei e por diversas vezes disse que ele era ex-coletor de lixo em Penápolis.
 
Torcida
Em Penápolis, muitos acompanharam a prova, e ontem, a vitória do conterrâneo era o principal assunto entre os penapolenses. Durante entrevista para a imprensa nacional, Solonei afirmou que cada corrida é uma nova emoção, “corro para dar o melhor de mim e poder oferecer uma vida melhor para minha família”, afirmou logo após a conquista do ouro. O atleta não pretende parar sua carreira tão cedo e quer colher bons frutos no futuro. “Quero cursar Educação Física, e disputar outras provas até os 40 anos, e quando parar de correr, vou trabalhar com a base desse esporte”, disse. Solonei começou a treinar sistematicamente, em setembro de 2009, na extinta equipe Rede Atletismo - hoje, é atleta do clube Pinheiros, de São Paulo. Ele foi encaminhado para Bragança Paulista pelo penapolense Marcão Moreira para avaliação, e seu irmão Mauro Moreira, que viabilizou o teste, revelou que sentiu grande emoção ao ver o amigo ganhar a medalha. “Estava na fazenda de um amigo e acompanhei a sua chegada, fiquei muito emocionado, pois Solonei conseguiu um feito histórico em sua vida”, comentou. Mauro ainda fez questão de ressaltar as qualidades do amigo, “ele é uma pessoa maravilhosa, lutador, com certeza merece estar onde chegou, graças a sua perseverança com um objetivo de vida”, enalteceu. Solonei fez questão de mencionar a cidade de Penápolis durante as entrevistas em Guadalajara, “estou super feliz por meu feito, agradeço muito aos meus familiares e também aos amigos de Penápolis, tenho certeza que estão fazendo muita festa neste momento”, disse.

Provas
Em maio de 2010, Solonei participou da primeira maratona como atleta, em Porto Alegre, e venceu com o tempo de 2h15min43. Neste ano, em Padova, na Itália, encarou a distância pela segunda vez, chegou em 4.º lugar, fazendo o percurso em 2h11min32. Para a maratona do Pan, foram quatro meses de preparação e quase 50 dias de treino em altitude. No esporte, sua meta é se classificar para os Jogos Olímpicos de Londres. A próxima tentativa de alcançar o índice é no Japão, em janeiro. Se der errado, ele correrá também a Maratona de Londres, em abril de 2012.

História
A história de vida do penapolense é curiosa e exemplar. Ele é profissional há apenas dois anos. Ele tinha o sonho de correr, mas sem condições financeiras desde cedo precisou trabalhar para ganhar o sustento. Sua primeira experiência foi na empresa que trabalhava, o Curtume Atlântica, que promoveu uma competição entre os funcionários, da qual conseguiu se sair bem. Posteriormente ele participou de uma competição promovida pela Prefeitura de Penápolis e, como não tinha tênis, correu com um par de chuteiras. Apesar de conseguir um bom resultado o calçado inadequado provocou lesões que quase o impediu de trabalhar no dia seguinte. Chegou a pensar em desistir. Aprovado em concurso público no DAEP (Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Penápolis), na função de gari, já casado, ele não queria deixar o cargo para ingressar de vez no atletismo. Em 2009 fez teste no Clube Pinheiros, e, aprovado só aceitou deixar o cargo de coletor de lixo com a promessa de ter de volta o emprego caso a carreira de corredor não decolasse. Sua ida para o Pinheiros contou com a ajuda da diretoria do Clube Atlético Penapolense, da família responsável pela gestão, de inúmeros amigos penapolenses que colaboraram até mesmo financeiramente e da Prefeitura. Para o presidente do Penapolense, Nilso Moreira, a satisfação na conquista de Solonei iguala-se emocionalmente com a conquista do Clube Atlético Penapolense este ano, quando sagrou-se campeão. “Temos que parabenizá-lo, pois a diretoria o ajudou e continuará ajudando sempre. Mas, não fomos só nós que lhe estendemos a mão, mas muitos penapolenses contribuíram para esta vitoria, os amigos, o pessoal da rede de atletismo, o Pinheiros e o seu treinador Clodoaldo do Carmo que também é fisiologista do Clube Atlético Penapolense e comanda os treinamentos físicos do CAP”, destacou o presidente. Nilso observou que Penápolis esta projetando figuras importantes no esporte nacional e mundial. “Além do CAP, que teve grande repercussão na Imprensa este ano, temos agora o Solonei, os irmãos Bruno e Breno Alves, no Judô e a corredora Ana Tércia, dentre outros”, afirmou. Para ele, os resultados estão ligados ao bom trabalho desenvolvido pela Secretaria Municipal de Esportes, a Prefeitura e a determinação dos atletas. “Eu não me lembro de outra época em que a repercussão foi tão grande. Sem dúvidas o prefeito João Luís dos Santos é pé quente. Esta vitória é do Solonei e de todo os penapolenses, pois somos humildes, lutadores e sempre buscamos a glória com muito trabalho, moral e ética. É só vermos a cena do Solonei dando a mão para outro competidor em sinal de apoio”, finalizou o presidente. (Rafael Machi)