Mãe e filho superam na dança, obstáculos da deficiência

DA REPORTAGEM

Os penapolenses Cristiane Barbosa França e seu filho Otávio França da Silva, de apenas 10 anos, foram destaque nesta semana na Rede Globo de Televisão. Eles participaram do programa “Encontro com Fátima Bernardes” na última segunda-feira (21) e ambos emocionaram os telespectadores e também os convidados do programa, como o cantor Alexandre Pires, ao falarem a história de superação de mãe e filho através da dança, já que Cristiane é cadeirante. Otávio chegou a sofrer bulling na escola por conta de preconceitos ligados à deficiência de sua mãe, entretanto, após a união de ambos, eles vencem novos desafios a cada dia e encontraram na dança a maneira de mostrar para as pessoas o quanto é possível superar obstáculos, apesar das limitações. “A dança mudou minha vida e passei a encontrar nela a inspiração pra vencer sempre a minha deficiência e foi com o Otávio que vi as oportunidades de levar isso cada vez mais à frente”, comentou Cristiane. Ela revelou que teve a ideia de escrever para o programa global depois de perceber o quanto a dança estava transformando sua vida e de seu filho. “Depois que começamos a Dançar, nossa autoestima melhorou muito. O Otávio voltou a se tornar um menino mais alegre, e apesar das dificuldades que passamos, ele voltou a sorrir. Eu quis mostrar para as pessoas o quanto é importante isso. Eu sabia que esta superação minha e de meu filho não poderia ficar somente para mim, mas que deveria servir de inspiração para as demais pessoas”, disse. Através de um amigo, o psicólogo Júlio Ribeiro, ela entrou em contato com a produção do programa, que em poucos dias retornou a convidando para uma participação em alusão ao dia nacional de luta das pessoas com deficiência física. “Nesse período fui questionada do porque participar do programa da Fátima Bernardes e sempre respondi que é pelo fato de eu nunca ter visto, ela tratando um deficiente físico como um coitado, fazendo polêmica pelo sofrimento alheio, mas mostrado histórias de superação e quanto nós também somos capazes”, ressaltou. Cristiane revelou que atingiu sua meta ao participar do programa de Fátima Bernardes. “Eu e o Otávio fomos com o objetivo de mostrar nossa dança e acabamos mostrando um pouco mais. Acho que o mais importante é não ficarmos nos lamentando com nossos obstáculos, mas mostrar o quando eles podem ser vencidos como qualquer outro problema que a pessoa teria, mas para isso temos que lutar. Enquanto um deficiente não mostrar daquilo que é capaz, nada vai mudar, não seremos iguais às demais pessoas, mas para isso é preciso força de vontade”, afirmou. Cristiane revelou que a repercussão foi bastante positiva. Ela contou que ainda no aeroporto, no Rio de Janeiro, quando se preparava para retornar, recebeu cumprimentos e elogios de pessoas que se sentiram tocadas pela história dela. “Poder ver as pessoas se emocionando e de alguma forma tocadas pelo que passei no programa, me chamou muito a atenção e me deixou contente, pois significa que estou alcançando meus objetivos”, enfatizou.

Superação
Poder chegar até aqui não foi fácil para Cristiane e seu filho Otávio. Ela revelou que aos quatro meses de vida sofreu uma paralisia infantil que deixou sequelas. “Eu sofri muito preconceito com isso, cheguei a apanhar na escola devido à minha dificuldade para andar e isso me afastou dos estudos e de muita coisa”, contou. Mesmo assim, ela ainda mantinha sua rotina, até o dia em que ela escorregou de um banco e sofreu uma lesão na coluna que a impediu de andar. “Sempre fui muito ativa e quando soube que ficaria numa cadeira de rodas entrei em uma depressão profunda. Foi uma fase muito difícil a qual jamais imaginei passar”, disse.  Após começar seu processo de recuperação no hospital Luci Montoro, em São José do Rio Preto, Cristiane conheceu a dança inclusiva e viu aí a oportunidade de mudar novamente sua vida. “Foi algo pela qual me apaixonei. Eu vi na dança a oportunidade de liberdade e independência que um deficiente busca em uma situação como a minha. Dançar me tornou leve e de bem com a vida”, explicou. 
Otávio entrou na dança um pouco mais tarde. Ao ver a mãe dançando, pediu para dançar com ela. Já nos primeiros movimentos chamou a atenção do professor de dança, que o convidou para fazer parte da dança inclusiva. “A partir daí levamos nossa dança para diversas pessoas. Já nos apresentamos aqui em Penápolis, em Rio Preto e outras cidades, sempre levando nossa alegria e história de superação para as demais pessoas verem o quanto são capazes”, enfatizou. 

Bulling
O preconceito das pessoas fez com que Otávio sofresse bulling por parte de outros alunos na escola onde estuda. Ele chegou a ser trancado no banheiro feminino desta escola por outros alunos que alegavam que ele não poderia estudar lá por ser filho de uma “aleijadinha”. “Quando ele chegou em casa e me contou o que havia ocorrido eu fiquei muito triste, principalmente pelo que ele sentia naquele momento. Ali vi ele sofrendo todo aquele preconceito que eu também sofri quando criança”, comentou Cristiane. Ao contrário do que muitos pais fariam, em pedir punição para os praticantes do bulling, Cristiane quis realizar um bate-papo com os alunos da escola de Otávio e mostrar sua situação, explicado suas dificuldades. De acordo com o próprio Otávio, a medida surtiu efeitos bastante positivos. “As outras crianças passaram a ver isso de maneira diferente e a me tratar melhor. Fiquei muito contente com isso, hoje tenho muitos amigos que me tratam igual aos demais”, disse. Cristiane, além do trabalho com a dança, faz palestras em escolas contando um pouco de sua vida. “Isso é minha maior alegria, pois tenho a oportunidade de mostrar paras as crianças o quanto somos capazes. Não é por que sou deficiente que vou deixar de sonhar e fazer minhas atividades. Assim, me sinto cada vez mais realizada, pois é através da luta minha e do Otávio que estamos superando cada vez mais obstáculos”, finalizou Cristiane.
Já Otávio, que antes era excluído por alguns amigos, hoje virou “estrela” entre eles depois de aparecer na Globo. “Muitos amigos já vieram me perguntar como é lá, se eu tinha visto pessoas famosas, elas querem saber de tudo. Com essa experiência também estou superando muitos problemas”, comentou Otávio.  

(Rafael Machi)