Evangelho: Igreja adota sistema alternativo para atrair fiéis

O pastor Sílvio Augusto Belussi, fundador da Igreja Ministério Milagre da Fé - Missão Celular no Governo dos Doze, adotou um sistema alternativo para atrair fiéis, em especial os jovens problemáticos da cidade. Apresentando uma forma nada convencional a oferecida pelas igrejas evangélicas, o pastor transforma os cultos em uma espécie de ‘balada’ no estilo gospel, onde até o ritmo pesado é empregado nas pregações. A forma alternativa, segundo o líder, já começa a incomodar a alguns líderes conservadores, que, admite, estão espalhando boatos pejorativos na cidade quanto ao trabalho desenvolvido.

Início
Sílvio, que é também é comerciante, lembrou durante uma reportagem concedida ao Diário, que após residir na zona rural, decidiu fixar moradia na cidade. Isto ocorreu há alguns anos, período em que, paralelamente, começou a freqüentar uma igreja evangélica. Apesar de ter feito um curso de teologia, Sílvio afirma que até então nunca havia pensado na possibilidade de ser pastor. “Eu até incentivava meus amigos evangélicos a serem líderes religiosos, mas destacava que minha pretensão era de ser empresário. Tudo começou a mudar quando algumas pessoas passaram a insistir para que eu desse início a um trabalho religioso”, explicou. No início, de forma despretensiosa, os estudos bíblicos eram apresentados para apenas dois casais. Com o tempo, mais interessados foram surgindo. Os encontros ocorriam nos fundos da residência de Sílvio, mas, devido à grande concentração que começou a ser formar, um prédio – que ficava defronte a Prefeitura Municipal - precisou ser alugado. “Até então o trabalho era considerado como normal, até que Deus me deu uma estratégia para que eu trabalhasse com células”, lembrou. O sistema de células, explicou Sílvio, consiste que sejam formados líderes, que por sua vez são colocados em casas para que os amigos sejam convidados a formar novos grupos. “A proposta é de não se falar em religião, mas de estudar a bíblia”, define Sílvio. Foi justamente nesta fase que os jovens, em sua grande maioria problemática, o que inclui envolvimento com drogas pesadas, começaram a surgir. O aumento de fiéis forçou o empresário a adquirir um antigo galpão industrial na avenida Luís Osório, onde atualmente a igreja funciona com aproximadamente 700 pessoas. “Deparamos todos os dias com jovens que enfrentam problemas terríveis no âmbito familiar. Alguns sem pai ou mãe, outros criados na rua e, de maneira comum, todos com envolvimentos com drogas”, observou o pastor. A primeira providência que é tomada ao depararem com esta situação, na visão de Sílvio, é promover um encontro do jovem com Deus. Os encontros, observou, ocorrem junto à natureza, normalmente em sítios da região ou à beira de rios. “Nestes locais promovemos palestras onde informamos os objetivos de Deus para com eles, como a formação das famílias e um futuro melhor aos jovens. Enfatizamos a necessidade de ocorrer uma mudança e que, através de uma pessoa, Deus pode mudar uma cidade”, destaca Sílvio.
Quando iniciou esta forma alternativa de pregação, o pastor lembra que já tinha em mente oferecer algo diferente ao convencional em relação à fé. “Quero lutar para mudar uma cidade, mas como não posso em sua totalidade, vou brotar nos jovens este desejo de querer mudar, começando pela família, pelo bairro e pela cidade”, enfatizou. Nesta proposta, o abandono das drogas está em primeiro lugar. “Os pais e filhos precisam ser exemplos em seus lares para futuramente terem um trabalho digno e serem homens de Deus. Com esta proposta eles construirão famílias diferentes do modelo atual. Fazendo o alicerce hoje, o futuro será melhor do que hoje”, raciocinou o pastor.  

Estilo
Segundo o pastor, não foram raras às vezes em que os propensos fiéis entregaram drogas a ele durante os cultos. Esta aproximação forçou Sílvio a adotar o novo estilo de pregação. “Deus tocou em meu coração a necessidade de eu também me tornar um jovem, pois se não agir assim, não será possível ganhar a confiança deles”, reconheceu. Estes procedimentos, garantiu, começaram a incomodar vários segmentos religiosos que passaram a criticar seu trabalho, taxando o movimento como sendo uma seita. “Infelizmente eles não conseguem entender o fato de eu andar de bermuda, colocar um boné e pular com os jovens durante os encontros musicais. Mas jovem gosta de música, de luzes e de pular. Quando algum evangélico chega aqui e observam este estilo, logo associam o trabalho como algo ‘mundano’. Mas eu trago as músicas que os jovens gostam, porém em versão gospel”, reconheceu. Esta medida tem como objetivo principal oferecer na própria igreja, mas de forma sadia, o que a sociedade oferece em bailes. Para ocorrer à atração, o templo é revestido com sistema de iluminação e a música, e, apesar de em alto volume, todo conteúdo, observou o pastor, é gospel que tem por finalidade louvar a Deus. “Não é oferecido uma boate, mas músicas no ritmo que a rapaziada aprecia, como o hip-hop. Vários jovens que agora freqüentam a igreja estavam envolvidos com drogas e crimes e agora freqüentam os cultos e dançam através dos ritmos evangélicos. A partir de então, a turma passou a perceber que ser crente não significa ser tapado. Também viram um pastor diferente, sem terno e gravata, apesar de não ser contra o uso desta vestimenta”, reconheceu Sílvio. Para ele, é oferecido um trabalho diferente de evangelização, que sem dúvida não seria encontrado caso seus seguidores fossem em uma outra igreja. “Com certeza não seria oferecido este estilo”, enfatizou o pastor. Na visão de Sílvio, graças a este estilo atualmente mais de 100 jovens compõem o quadro de freqüentadores. A probabilidade, para o religioso, é que grande parte deles se recupere do vício. “Mas não são todos não”, reconhece. Quando é percebido que ocorreu alguma recaída, um dos membros da igreja, identificados como líderes, procuram o jovem desviado para uma nova tentativa. Pela sua contabilidade, nos últimos cinco anos ao menos 200 jovens abandonaram o vício graças ao trabalho religioso. Isto levou os vereadores a oferecerem uma moção de reconhecimento, cuja entrega ocorreu há alguns dias. “Foi à mão de Deus que trouxe estes jovens para uma nova vida”, finalizou o pastor.  (SRF)

Foto: A foto mostra templo tomado por fiéis durante um culto