Estudo: Pesquisa em jornal impresso resgata a história da cidade

Registrar dia-a-dia a história de um povo e repassá-la a este mesmo grupo pode ser apenas uma das tarefas que o jornalismo diário tem a cumprir. Da mesma forma com que são valorizadas novas edições e as tecnologias que possibilite a elas ganhar novas cores, fontes e texturas, velhas e amareladas páginas também podem se tornar mais valiosas com o passar dos anos. E é em busca deste material apurado pelo tempo que um grupo de estudantes de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP/Bauru realiza desde dezembro de 2005 visitas ao Museu Histórico de Penápolis. Trata-se do projeto “A Imprensa em Penápolis: Temas da Dinâmica Urbana em O Penapolense�, cuja pesquisa é financiada pela Fapesp (Fundação Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) e desenvolvida pelos estudantes Lara Alcadipani, Tatiana Aoki, Thybor Brogio e Verônica Lima, sob orientação do professor Dr. Célio Losnak.

A idéia consiste em resgatar a história da formação e configuração do espaço urbano de Penápolis com base na análise de “O Penapolense�, o primeiro periódico da cidade, cuja circulação, de julho de 1915 a janeiro de 1940, acompanhou o processo de desenvolvimento do município.

Este trabalho é parte do projeto temático “Saberes Eruditos e Técnicos na Configuração e (Re) Configuração das Cidades de São Paulo nos séculos XIX e XX�, do qual também participam pesquisadores da UNICAMP e da PUC-Campinas. O objetivo geral é estudar a formação e as transformações das cidades de São Paulo, sendo que o grupo de Bauru está voltado para a região Oeste do estado, mais precisamente, a zona da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

O orientador do projeto destacou o fato de Penápolis ter sido um município de grande importância para a região no início do século XIX, assim como “O Penapolense� também estava à frente das publicações de outras cidades, muitas delas sem nenhuma produção do tipo. “Encontramos aqui um jornal importante para a época�, disse.

Leitura

O grupo tem como uma das mais exigentes tarefas a leitura página a página de todas as edições de “O Penapolense� em seus quase 25 anos de circulação, atentando para os inúmeros segmentos como o debate político, a atuação da Prefeitura, o lazer, a vida comum e os problemas sociais e econômicos, para, a partir dos perfis traçados, discutir as transformações físicas e ideológicas do município ao longo dos anos. “Para entender o que acontece no jornal também precisamos de outros materiais como livros de memorialistas, outros jornais, relatos de memórias, materiais publicados pela Prefeitura e outras instituições e também fotografias�, comentou o professor.

A aluna Lara explicou ainda que as edições do impresso foram divididas em períodos, e cada integrante ficou responsável por cerca de seis anos de publicação. “Minha parte é a primeira (1915-1920) e faço o levantamento que vai desde temas e conteúdo a formato, estilo e linguagem�, disse. Já a segunda parte, pesquisada por Verônica, conta com o partidarismo como característica marcante. “O jornal começa como representante do Grêmio Literário, mas depois se auto-denomina órgão do Partido Republicano, então as questões políticas estão muito presentes, sempre sobre o viés do partido�, explicou, “É possível identificar também a visão elitista da época, os eventos sociais, grupos considerados marginais, enfim, conseguimos perceber com detalhes como a dinâmica da cidade se configura�, completou a estudante. A pesquisa com o material de Penápolis tem previsão de término para o final deste ano e resultará ainda no projeto de conclusão de curso dos alunos.

Museu ganhará digitalização do arquivo de
“O Penapolense�

Como parte do trabalho de pesquisa desenvolvido pelo grupo da Unesp, o arquivo do mais antigo jornal impresso da cidade, pertencente ao Museu Histórico, está sendo digitalizado. “Estão sendo fotografadas todas as páginas, já que, por estarem encadernadas, as folhas poderiam ser prejudicadas com a utilização do scannerâ€�, contou o orientador da pesquisa, “A iniciativa contribui para a conservação deste material de grande valor histórico, além de facilitar o acesso da comunidade ao impressoâ€�, comentou. A digitalização facilitará a consulta por parte de estudantes e da população em geral que tenha interesse em ler as antigas impressões. 

O grupo revelou ter se surpreendido com as condições de conservação de materiais históricos sobre a cidade. “É muito interessante saber que uma cidade do interior tenha esse cuidado em conservar o jornal. Por ser tão antigo, está muito bem conservado o arquivo. Isso nos facilitou muito�, disse Lara, “O museu é muito organizado. Existem cidades bem maiores que sequer tem um Museu Histórico. Percebemos também o cuidado que os funcionários têm em arquivar corretamente as publicações atuais�, completou a estudante.

Ajuda

O grupo espera contar com o apoio dos penapolenses quanto a disponibilidade de materiais, desde fotos antigas de famílias, escolas, construção de estradas e da ferrovia, plantios, entre outros, assim como textos, recortes de jornal, artigos e demais publicações relacionadas ao período de 1900 a 1940).

“Quem não quiser doar o material ao Museu, pode apenas nos emprestar para fazermos a digitalização e assim também deixamos cópias com o Museu�, pediu o professor. Interessados em ceder material para a pesquisa podem entrar em contato com a direção do Museu Histórico através do telefone 3652-7034. (AR)