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CIDADE & REGIÃO

10/02/2008

Cana de Açúcar: Laboratório penapolense é referência em controle biológico

Detalhes Notícia

O trabalho de controle biológico para combate à praga presente nas plantações de cana, desenvolvido em Penápolis pelo laboratório BioAmili, é referência em todo o estado de São Paulo. A bióloga responsável, Amilza Mendes Cunha, 47 anos, estuda há mais de 30 anos o combate à Diatraea saccharalis, nome cientifico da popular "broca da cana". Iniciando na área como funcionária da Usina Campestre, a bióloga acompanhou a formação de diversas novas usinas da região, prestando assistência técnica sobre o controle biológico por meio de apoio estendido pela própria usina, pioneira na região.
O controle biológico acontece por meio da criação da Cotesia flavipe, uma vespa que se comporta como parasita da broca, alimentando-se dela e eliminando a praga da plantação. Atualmente prestando serviços em laboratório próprio, a bióloga explicou que o parasita é comercializado dentro de copinhos plásticos, com 30 unidades cada, a custo de R$ 3,00. Segundo ela, a produção em apenas um de seus três laboratórios é de 12 mil copinhos por semana, equivalente a 360 mil vespas prontas para se alimentar da praga.
O fornecimento é realizado a cidades de todo o Estado. Minas Gerais e Mata Grosso também se beneficiavam da produção penapolense, mas a venda foi interrompida por apresentar algumas desvantagens. Conforme explicou a bióloga, durante o transporte por distâncias maiores havia perda de parasitas, quantidade que tinha que ser reposta sem custo adicional. "Agora priorizamos a nossa região, até porque a demanda cresce cada vez mais e não teríamos condições de atender a todos os pedidos", comentou.
Além da Usina Campestre, que utiliza a alternativa de controle biológico há décadas, o laboratório envia permanentemente os parasitas a usinas de Avanhandava, Clementina, Martinópolis, Assis, Lins, Junqueirópolis e Bariri, entre outras.

Crescimento
A proprietária do laboratório aposta no crescimento do setor, já que a região está se tornando um grande pólo sucroalcooleiro. "Este tipo de trabalho qualificado deve ser cada vez mais valorizado, já que exige muito conhecimento", comentou. Ainda segundo ela, por muitos anos faltou ao produtor de cana a consciência de que os meios naturais de combate garantem excelentes resultados. "Muitas pessoas estão valorizando a criação das vespas somente agora, já que a mentalidade geral do brasileiro é de não acreditar nos meios naturais para solucionar questões", opinou, "Prova disso é que trabalhei durante muitos anos no anonimato. Na verdade, até sofremos preconceito, as pessoas falavam dessa atividade com comentários pejorativos, desvalorizando nosso trabalho", argumentou ela.

Dedicação
Formada em Ciências pela Fundação Educacional de Penápolis e também graduada em Biologia pela Faculdade Auxiliadora em Lins, Amilza reuniu quase todo o conhecimento sobre o combate à broca pesquisando sozinha os processos biológicos, já que as referências na área eram raras. Em 2005, seu trabalho foi terceirizado para a usina, onde continuou com a instalação do laboratório. Com o crescimento da demanda e, consequentemente, do número de ajudantes, ela transferiu a atividade para a zona urbana, facilitando o acesso dos funcionários. Atualmente, mantém dois laboratórios na cidade, um defronte à praça 9 de Julho, no Centro, e outro no bairro Vilage Regina, além de uma terceira unidade instalada há cinco meses na cidade de Queiroz, para atender a demanda da região de Tupã.
Para trabalhar na criação das vespas, os funcionários não necessitam ser formados em Biologia. "Tenho um total de cinco encarregadas que são biólogas, mas um bom treinamento também pode capacitar a pessoa para a função, que é muito minuciosa", contou Amilza. A atividade das três empresas garante emprego a 112 pessoas. (AR)

Vantagens da vespa barraram criação de moscas

Na década de 70, o combate natural à broca da cana era feito com a utilização de duas espécies de moscas. Este processo perdeu espaço para a criação da vespa Cotesia flavipes por apresentar alguns problemas, como a não resistência das moscas durante a criação, gerando perdas consideráveis na produção. Além disso, as moscas causavam receio à população, que temia a proliferação e invasão do inseto nos meios urbanos.
Porém, enquanto as moscas - de nomes científicos Metagonistylum minense e Paratheresia claripalpis - eram nativas do Brasil, a vespa foi importada da América Central e precisou de um longo processo de adaptação ao ambiente para ser introduzida com eficiência nos canaviais brasileiros.

Histórico
O problema das pragas que atacam canaviais vem gerando pesquisas no país desde a década de 30. Porém, por muitos anos o combate foi realizado com o uso de substâncias químicas.
Estudos sobre a praga revelaram que, ao invés de dar continuidade a seu ciclo, criando um casulo (crisálida) e depois transformando-se numa mariposa, a broca criava um casulo diferente, saindo dele uma mosca. "Foi então que descobriu-se que haviam duas espécies de moscas parasitando naturalmente a broca. E estas moscas passaram a ser criadas em laboratório", elucidou Amilza.
As pesquisas para essa criação aconteciam por meio de cursos oferecidos pela Copersucar, que trabalhava com as duas espécies nativas do Brasil, e tinha a Usina Campestre entre as unidades que apoiava. Mas, em 1973, o Planalçucar, programa do governo para o melhoramento da cana, disputando com os demais grupos de estudos, optou pela busca de novas alternativas. "Foi importada então da Índia uma vespinha, mas ela não se adaptou ao nosso clima", contou Amilza, "Prosseguindo com as pesquisas, finalmente chegaram à descoberta da Cotésia, em Trinidad Tobago, que acabou adaptando-se ao canavial brasileiro, embora, para isso, tenha demorado uma década", completou.

Lucro
A nova alternativa apresentou vantagens, atraindo os investidores. "Além da grande quantidade de moscas que adoeciam antes de completar seu ciclo, a vespa diminuiu a mão-de-obra e o custo caiu pela metade", considerou a bióloga. Sobre o uso de agrotóxicos nos canaviais, a opção tornou-se ainda mais vantajosa: não agride o meio ambiente e custa muito menos. Atualmente, a produção da vespa pede investimento médio de R$ 12,00 por hectare enquanto o uso de venenos custa R$ 42,00 por hectare.
Ainda assim, segundo a bióloga, muitos produtores, há alguns anos, cometeram um engano trocando a criação da vespa pelo uso de um veneno que prometia ser eficaz. "Este produto apenas camuflou por um tempo a proliferação da praga, mas ela criou resistência à substância", disse, "Várias usinas desativaram seus laboratórios nesta época e depois, devido ao alto custo, desistiram de investir na remontagem e preferiram comprar as vespas de laboratórios comerciais", finalizou Amilza. (AR)

Foto: Desde a década de 70, Amilza pesquisa a criação para combate à broca

Conheça o processo de criação da vespa

Como na criação de qualquer outro tipo de parasitismo, é preciso criar primeiro a praga, que será o alimento do parasita. Inicialmente, a praga é retirada da natureza, mas depois passa a ser multiplicada apenas no laboratório, que acompanha seu ciclo completo, assim como o ciclo da vespa.
Para a criação da praga, é processado um alimento, chamado de "dieta artificial" e nele são deixados os ovos da praga, para que se alimentem e nasçam as lagartas. Nesta fase é necessária uma temperatura de 28º a 30º C.
Na seqüência, as lagartas são levadas para a fase de inoculação da vespa. "Colocamos as vespas, uma a uma, em contato com a lagarta. A vespa pica a praga e introduz nela uma média de 50 ovos", explicou a bióloga. Esta etapa tem duração de duas semanas e exige uma temperatura própria, de 15º a 23º C. Os ovos demoram cerca de dois dias para eclodir dentro da praga e depois seguem para seu intestino, onde fixam-se e passam a suga-la", contou.
A próxima etapa consiste em acomodar as lagartas em caixinhas com um outro tipo de alimento. "Temos que ter cuidado para garantir que a broca não está contaminada por alguma bactéria ou fungo, e isso exige um treinamento minucioso, já que a contaminação vai comprometer a produção final", lembrou a bióloga, "Enquanto come o alimento, a praga estará alimentando seu inimigo, que está hospedado dentro dela", completou.
Após cerca de 10 dias, as larvas da vespa furam a lagarta, saem e tecem um casulo, onde desenvolverão o embrião de futuras vespas. "Esta reprodução é bem rápida, acontece em cerca de cinco dias, mas antes do nascimento fazemos a revisão nestas vespinhas. Tiramos os casulos e colocamos 30 deles em cada copinho, que é embalado em caixas próprias e então enviado à usina", esclareceu Amilza.
A bióloga ressaltou que a produção é exclusivamente voltada ao combate à lagarta da cana. "A vespa não parasita outros insetos e sim apenas a broca", salientou. Ela garantiu ainda que a vespa não prejudica os seres humanos nem há chances de migração para a área urbana. "Seu espaço de vôo é muito curto, com deslocamento médio de um raio de até 50 metros", revelou a bióloga, "Além dessa característica, ela não precisará se deslocar se encontra todas as condições para se alimentar da broca na lavoura de cana", lembrou. (AR)

Foto: As vespas são colocadas, uma a uma, para picar a lagarta e introduzir nela seus ovos

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