Avanhandava: Com críticas à Igreja, Reginaldo confirma afastamento da paróquia

O pároco de Avanhandava, Reginaldo Marcolino, 27 anos, pediu afastamento da paróquia de Santa Luzia, que comanda desde o final do ano passado quando foi ordenado em cerimônia na matriz de Santa Luzia. O anúncio oficial, que pegou de surpresa muitos fiéis em Avanhandava, foi feito ontem pelo religioso em entrevista exclusiva concedida à rádio Liberdade FM, conduzida pelo radialista Eduardo Mazza. Reginaldo respondeu a todo tipo de pergunta, inclusive pessoais. Ele fica à frente da paróquia até o final de dezembro. Na missa do último domingo ele já havia sinalizado para a possibilidade da licença dizendo que não estava completamente realizado no sacerdócio e que tinha certas inquietações que estavam fazendo mal a ele. “São coisas internas e pessoais que preciso resolver. O que de certa forma me deixa magoado é a estrutura existente na igreja católica como um todo, não só em Avanhandava de modo particular. Foram várias as inquietações e conversas com o bispo diocesano dom Irineu. Foi um longo discernimento para chegar a esta decisão. Sempre busquei o sacerdócio, mas preciso resolver certas coisas dentro de mim que não estão tão bem”.

Sobre os rumores existentes de que ele estaria tendo um caso com uma pessoa da cidade, Reginaldo respondeu: “Quando o povo ou qualquer pessoa da comunidade percebe que o padre não está tão bem no Ministério, que está com dificuldades, atribui logo para a parte afetiva e começa a espalhar todo tipo de comentários. Fiquei sabendo desses boatos, até o bispo me chamou para uma conversa, mas digo que a parte afetiva seria um dos aspectos da minha inquietação, não a única. È difícil você perder a sua identidade pessoal e ser rotulado apenas como o padre, mas também sou o Reginaldo. Logo no começo do sacerdócio, não me senti bem”, explicou.

Paróquia exigente

“Avanhandava é uma paróquia maravilhosa, o povo é bastante generoso, sou grato a todos, mas é também uma paróquia muito exigente e que requer um grande trabalho de evangelização, então, tudo vem sobre o padre, quando na verdade todos os líderes são responsáveis. Se a gente pegar o histórico de outros padres veremos que eles também sofreram as mesmas inquietações, que existem também em muitos sacerdotes. Não fui maduro o suficiente para enfrentar uma realidade paroquial, isso tenho que reconhecer. Preciso agora reconhecer os meus limites”, admitiu o religioso. Reginaldo desmentiu informações que estaria se afastando para se casar. “Após esse período de um ano, pode ser que eu volte ao sacerdócio, pode ser que não. Cada pessoa é livre para se realizar naquilo que lhe faz bem. Busquei o sacerdócio querendo ser feliz, no momento não sou plenamente, esse um ano será para minha reflexão.

Para ilustrar a situação a que um padre às vezes se depara, pároco Reginaldo citou um fato ocorrido na celebração do ano novo de 2005 para 2006, pouco tempo depois de sua ordenação. “Após o enceramento da missa e debaixo de muita chuva fiquei sozinho na casa paroquial na companhia de minha cachorra sentado no chão, quer dizer, isso para alguém com 27 anos é um mau começo. Querendo ou não, como padre você se distancia de sua família, assumindo uma família maior”, exemplificou. Para ele, muitos pontos na igreja deveriam ser revistos. “A igreja em muitos aspectos se encontra ultrapassada, fechada e apesar de algumas mudanças e inovações ainda é preciso coisas novas que correspondam ao diálogo com a modernidade. A igreja ortodoxa hoje tem a opção de padres casados e não casados, é uma opção que a ortodoxa abriu e que poderia ser acolhida pela nossa igreja, isso é uma reflexão pessoal minha como cristão católico e não como padre pois não teria direito de fazer isso”.