Memórias do Carboni: Time do Além

As vezes, no bate-papo entre colegas, seja a beira do campo ou no bar após os jogos, é comum o pessoal relembrar fatos e lances acontecidos naquele jogo ou em passados. E, naturalmente vem a memória lembranças de colegas já falecidos, que jogaram ou simplesmente iam ao campo apenas para torcer, e, sem querer a gente vai deixando a imaginação tomar conta da conversa. A esmagadora maioria da população acredita que há um mundo paralelo, invisível, para o qual a única porta de entrada é a morte. Então, o que será que nossos amigos estarão fazendo? Se lá for um mundo igual ao que afirmam os espiritualistas, é quase certo que continuam jogando futebol. Mesmo aqueles que já haviam parado de jogar devido a idade ou porque se machucaram com gravidade, neste novo plano espiritual eles podem jogam a vontade, porque o motivo que os impedia ficou para trás, que era o corpo físico. A alma não sente dor, a não ser a do remorso por não ter feito nada de bom ou ter prejudicado amigos e familiares enquanto ainda estava encarnada. E a lista dos que jogaram ou torceram pelo Fátima Futebol Clube e que já não pertencem a este mundo é bem grande e daria para formar vários times que bem poderiam ter essas denominações: Esporte Clube do Além, Desencarnados Futebol Clube, Além Túmulos Futebol e Regatas, etc ... Me perdoem se esqueci algum nome: Mário Soldado, Tata, Nestor, Palhinha, Dito Cola, Tutcha, Sussu, Tela, Nego, Boemia, Arlindo, Foguinho, Bermuda, Chico Pinga, PC, Gavião, Bijú, Batistaca, Amir, Lê, Baratão, Vado, Alceu, Toizinho, Claudinho, Pinha, Rato Pinto, Eloi, Virsso Preto, Zé Louco, Nene Preto, Papel, Voizinha, Esquerdinha, Lú Branco, Joel Pedrosa, Ilton, Chico Leone e outros. Para apitar os jogos não tem problema, já que Miguelzinho, que apitou muitas de nossas partidas, também está por lá. Ele poderá revezar o apito com Eloi Franco, que também  apitou dezenas de jogos e que recentemente passou a fazer parte daquela turma. Também não haverá problema para compor a diretoria, pois poderão contar com a colaboração do “seu” Plínio Ramos, do Darci Tomazini e do Jarbas Flôr, que durante muito tempo foram conselheiros do Fátima Futebol Clube. Não sei qual o meio de locomoção existente por lá, mas, se precisarem de motorista tem o Nina Brás, que nos levou várias vezes com seu caminhão basculante ou então o senhor João Gonçalves e o senhor Armando Franciscato com seus caminhões ou ainda o Donizeti Beneciuti com seu ônibus. Lá na torcida tem o Cirilo, o Damião, os dois Jovinos (Cabeceira e Tranqueira), o Noé com seu carrinho de sorvete, o Tião Banha alisando seu cabelo, o Mané Frangueiro com seu inseparável guarda-chuva preto chovendo ou com sol quente. Depois do jogo ainda pararão no Bar do Romualdo, que foi ponto de encontro, saída e chegada dos jogos, durante muito tempo. Em todo bate-papo ou conversa sempre tem aquele engraçadinho, espírito de porco, que gosta de soltar das suas. Num desses encontros o sujeito olhou para mim e disse sério: “É Marião, enquanto o lado de lá estiver contratando só jogadores, tudo bem, mas, quando precisarem de um treinador, fique esperto porque todos te conhecem e vão querer te contratar”.