Memórias do Carboni - Vadô

Seu nome de batismo era Salvador Montanari e nasceu na Vila Fátima onde viveu boa parte da vida. Depois de um tempo fora da cidade, voltou a morar na mesma casa onde ficou até morrer. Ele e seus irmãos jogavam na equipe do Fátima e ainda faziam parte dos acampamentos que os colegas realizavam nas matas da região. É que naquele tempo a maioria dos jogadores eram moradores do bairro e as caminhadas, as pescarias e as pousadas no mato eram comuns. Geralmente aos sábados, pois nos domingos havia jogos. Durante uma dessas caminhadas ele resolveu mostrar sua última invenção. Enfiou a mão no bolso e tirou uma arma artesanal mostrando-a aos colegas. Fazer armas em casa, tipo garrucha, era comum naquela época e ele estava satisfeito e orgulhoso. Para testá-la mirou um mourão de porteira, mas, o que aconteceu foi a culatra explodir. A princípio houve apreensão de todos, mas, quando a fumaça abaixou houve um grande alívio ao verem que nada de grave aconteceu, a não ser o Vadô ficar com a cara chamuscada de pólvora. Na equipe ele jogava de centroavante e eram famosas as suas arrancadas que davam muito trabalho aos defensores que não conseguiam pará-lo. Houve um tempo em que íamos jogar com o caminhão do senhor Armando Franciscato. O motorista não era lá de correr, preocupado com a segurança dos passageiros, mas, mesmo se quisesse fazê-lo seria impedido pelas estradas sem asfalto, esburacadas e areiosas. Nas subidas, o velho caminhão penava e ia bem devagar e já aconteceu do Vadô pular ao chão e ir correndo a frente, para em seguida, subir de volta sob os aplausos de todos. Com o tempo ele começou a jogar esporadicamente somente aos sábados e nos veteranos, mas, dando suas arrancadas. Ainda era difícil pará-lo, porém, um dia isso aconteceu. Ele estava na reserva em um campo da redondeza (Chácara do Valim) quando foi convocado a entrar no jogo. Quando iniciou sua primeira corrida foi parado por um zagueiro infalível. Um infarto fulminante encerrou sua carreira e sua vida. Ele morreu fazendo o que gostava. Era o dia 2 de dezembro de 1995 e ele tinha 43 anos.