CANTINHO DA SAUDADE

Memórias do Carboni: SEDE VORAZ

É costume dos times oferecerem um aperitivo aos jogadores visitantes, e esse aperitivo resume-se quase sempre a uma garrafa de pinga, ou mesmo um litro. Houve uma época em que resolvemos usar de um estratagema para faturar umas garrafas a mais. A primeira vez que isto aconteceu foi no Juritis e foi assim: o motorista era o Nivaldo (Gordo), que sempre carregava uma moringa na cabine do caminhão. Deixamos a moringa na carroceria, rodeada de vários jogadores, cuja função era sempre pedir pinga. Mal era aberta uma garrafa, a turma gritava: “queremos pinga, queremos pinga”. Duas ou três pessoas tomavam um trago, e passava a garrafa para a turma do caminhão, que despejava o líquido dentro da moringa (5 litros). Um dos moradores locais disse: “Poxa, vocês bebem uma pinga danada, heim!”. Outro morador respondeu: “Eu conheço essa turma e sei que eles bebem bastante mesmo”. Quando chegamos ao bar do senhor Romualdo, a turma bebeu e ainda sobrou quatro garrafas para o domingo seguinte. Passados alguns dias resolvemos trazer pinga do Araponga, onde fomos jogar, só que ai o truque não funcionou. Pegamos um litro de pinga e o despejamos na moringa, com a turma gritando “queremos pinga, queremos pinga”, só que por infelicidade, não havia mais e o jeito foi se contentar com um litro apenas. Depois de muito tempo, resolvemos aplicar novamente o mesmo golpe no dia 14 de março de 1982, quando fomos jogar no São Martinho. O motorista era o Nina, e a nossa turma fez o mesmo ritual de sempre, só que conseguimos apenas três garrafas, das quais bebemos duas e trouxemos uma. E não foi fácil. O pessoal de lá é gente boa, só que estavam mordidos por terem perdido de 3 a 0, dentro de casa, e creio ter sido este o motivo da bebida ser bem curta. Só que quando eles vieram pagar o jogo, descontaram o gasto que tiveram e beberam a vontade. Esta foi, por enquanto, a última vez que assim agimos. E já que o assunto é bebida, lá no São Martinho, a nossa turma tomou um porre, mas, as nossas próprias custas, visto que, como já narrei acima, os dirigentes locais agiram com um pouco de parcimônia. Durante o jogo dos aspirantes, não houve bebida alguma, mas, no jogo do titular foi que a coisa ferveu. Nossos aspirantes estavam contentes pela vitória conseguida por 2 a 1, e além do mais, o time titular também vencia o jogo. Marcamos três gols e a cada um deles a torcida exultava. Foram feitas várias coletas de dinheiro para a compra de bebidas, e as garrafas de pinga iam surgindo rápidas, e mais rápidas ainda voltavam vazias. Foram consumidas umas seis ou sete garrafas. Depois no bar, bebemos mais duas e no caminho mais uma. Houve gente que ainda misturou cerveja e vinho, ganhadas de alguns fregueses que lá estavam na ocasião. A turma gritava tanto em cima do caminhão, quando chegamos ao bar, que um policial até pediu silêncio, alegando que o barulho estava atrapalhando a missa na igreja quase defronte a nós. Daí a pouco a missa acabou e o barulho foi liberado, além do que, ninguém havia obedecido o policial. Felizmente, apenas um componente da nossa turma passou mal. Foi o Moisés, do aspirante, que a turma chamava de “papa-aleluia”. Por estar em tratamento dentário, e encontrar-se quase banguela. Começou a se sentir mal (era o mais alegre), e precisou ser colocado na cabine, no meio do caminho. Quando chegamos em Penápolis, ele foi conduzido até sua casa por colegas.