CANTINHO DA SAUDADE

Memórias do Carboni: Canudinho

Que a poluição mundial é um caso sério e incontrolável já é sabido através de todas as reportagens denunciantes que vemos pela televisão, e já não chocam tanto como alguns anos atrás. Mas, uma destas reportagens, com certeza, causou impacto. O repórter estava explicando que dentre os milhares de produtos poluentes, um deles estava se destacando: o canudinho plástico usado para refrigerante, sorvete, caipirinha, milk-shake, etc... É um simples canudinho, mas que aos milhões se tornou um problemão e o ápice da reportagem foi um vídeo feito por dois pesquisadores em que ambos, usando um alicate, retiraram de uma tartaruga marinha, um canudinho de uns 30 centímetros de comprimento que tinha entrado quase por completo em suas narinas, no litoral da Costa Rica. Notava-se que ela estava sentindo muita dor e tenho certeza que a dor também foi sentida pelas pessoas mais sensíveis já que tal operação durou cerca de 10 minutos. Só nos Estados Unidos são usados cerca de 500 milhões de canudos diariamente e apenas 8 milhões foram retirados da praia em 30 anos. Devido ao tipo de material usado em sua fabricação não é possível reciclá-lo e na natureza ele demora até 500 anos para se decompor. Surgiu então a idéia ou sugestão de substituir o plástico por madeira ou papel, que seriam degradáveis em pouco tempo ou então fazê-los de vidro ou inox, que seriam reutilizados depois de higienizados, mas esta última idéia talvez não dê certo devido a verdadeira paranoia que tomou conta da população em relação a higiene. Coincidentemente, há muitos anos atrás, eu e meus colegas já tínhamos um canudo alternativo. Quando a minha geração estava ainda na infância ou adolescência, o cotidiano das pessoas era bem diferente da atual. A meninada não bebia refrigerante, sorvete, etc... Com a mesma frequência que a meninada de hoje bebe. Aliás, o consumo pelos adultos também não era tão grande. Havia poucas marcas a disposição e todas envasadas em garrafas de vidro, pois o PET nem existia. A molecada só sentia o gostinho do “refri” no fim do ano com as festas de Natal e Ano Novo, e, mesmo assim não era para “encharcar” não.  Geralmente eram aquelas garrafinhas pequenas, mais conhecidas como “caçulinha”, sendo uma ou no máximo duas delas para cada pessoa, apenas para matar (ou aumentar) a lombriga. Em vez de destampar a garrafinha, a molecada preferia furar a tampinha com um prego ou a ponta da faca, tapá-lo com um dedo e chacoalhar a garrafa para pegar pressão e ao tirar o dedo do buraquinho o líquido espirrava para fora, espumoso, tipo champanhe, para delírio da molecada. Nos outros trezentos e sessenta e tantos dias restantes do ano, o jeito era se virar com limonada de limão rosa ou cravo com água tirada do poço e bebida na temperatura natural. Gelada só se um vizinho ou parente tivesse a bondade de fornecer algumas pedras de gelo. Para dar uma incrementada na limonada era colocado um pouco de bicarbonato, o que deixava a mistura “fervendo” e com a consistência de um “refri” industrializado. O canudinho usado era do talo ou haste do capim margoso, que tinha várias espessuras de acordo com o gosto da pessoa e o tempo de vida do capim. Não era uma opção e sim uma necessidade. Depois de usado era jogado fora e logo estava incorporado ao solo. De outra parte do capim também era possível se fazer um apito e até tirar algumas notas musicais.