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18/03/2018

CANTINHO DA SAUDADE

Imagens/Arquivo Pessoal
Detalhes Notícia

Memórias do Carboni: Tradições religiosas esquecidas

Atualmente quem passa em frente a Igreja Nossa Senhora de Fátima, no bairro do mesmo nome, vê uma bela praça com um formato único, sendo que dentre as dezenas de praças da cidade nenhuma é parecida com ela. Só que antes dela ser construída, lá pelos idos de 1969, o local era bem diferente, se resumindo em um descampado com apenas duas barracas de cerca de três metros de lado. Uma era de madeira e a outra de tijolos e ambas com uma espécie de balcão ao redor, com pouco mais de um metro de altura. Todos mês de maio acontecia uma quermesse e então eram construídas várias outras barracas de bambu, madeira e encerado, que juntas com as duas barracas fixas eram usadas como barraca da argola, da pesca, da bola de meia, etc. Era comum também a instalação de parques e circos e de vez em quando de outros tipos de atração. Do lado esquerdo da igreja havia um velho cruzeiro de madeira que servia de devoção as mais variadas. Hoje, dificilmente o leitor encontrará  alguma imagem de santo nas casas em que visitar, salvo em uma ou outra família mais antiga e tradicional, mas, nas novas gerações isto não será possível. Aliás, que as novas gerações não conseguirão se lembrar do nome de três santos, além daqueles mais conhecidos e corriqueiros e às vezes nem destes se lembrarão. Contudo, antigamente era comum em praticamente todas as casas, com raras exceções, terem os santos de sua devoção seja na forma de imagens de barro ou em figuras impressas em papel ou plástico espalhados pela casa ou em pequenos oratórios, geralmente na sala. Muitas famílias construíam oratórios de alvenaria embutidos na parede da frente da casa e iluminada à noite por uma pequena lâmpada. Hoje em dia, além da falta da fé, o que contribuiu para o fim dessa tradição foi o aumento do número de evangélicos, cuja doutrina não admite a existência de qualquer humano que tenha se transformado em santo e muito menos o culto a eles, na forma de adoração através de imagens. Bem, voltemos ao tempo e relembremos que a devoção era tão forte que quando uma dessas imagens se quebrasse, não se poderia simplesmente jogá-la fora e substituí-la por outra. Era preciso depositá-la em um lugar específico e aqui no nosso caso, pelo menos na minha família e dezenas ao redor, esse tal de lugar específico era justamente o velho cruzeiro ao lado da igreja, cujo pé estava sempre cheio de imagens quebradas de vários santos e santas. A predominância era a dos três ou quatro mais tradicionais, ou seja, São  Pedro, porque tomava conta da porta do céu (aliás, nem sei se ele ainda tem esse cargo devido ao pouco movimento registrado na porta do céu atualmente); São João,  devido as festas juninas; Santo Antonio, que era a salvação dos “encalhados” e São Francisco que é o padroeiro da cidade. Além desses já citados, também tinha outros que atuavam em vários tipos de proteção e ajuda àqueles que acreditavam e pediam, tais como Santo Expedito para os endividados; São Judas para as causas consideradas perdidas; Santa Luzia protetora dos olhos; Santa Bárbara para a qual de acendia uma vela quando se aproximava uma tempestade com raios e trovões. A lista é enorme. Como a parte mais fraca da imagem era o pescoço, era comum a santa ainda ficar com a cabeça decepada e então eram levados ao cruzeiro. Devido a ação da chuva, do vento e do desleixo, as imagens ficavam amontoadas e misturadas, mas, sempre aparecia alguém para arrumá-las, mas, não tinha a preocupação de conferir se a montagem estava correta e então ficava cabeça de santo no corpo de santa e vice-versa, ou, então imagens do mesmos sexo, mas, com as cabeças trocadas. Outra tradição ou seria crença, era o costume de derramar água no pé do cruzeiro em tempo de forte estiagem. Sazonalmente, quando o calor e a seca prolongada castigavam a população, minha mãe puxava água do poço e colocava em um litro de vidro, que era o que existia na época, pois o plástico não tinha a utilidade que tem hoje e a garrafa pet não existia nem no pensamento. Muitas vezes a seca era tão grande, que o balde vinha apenas pela metade de água. O encarregado de levar a água ao cruzeiro era sempre eu e lá eu me encontrava com outros meninos com a mesma missão, a mando das mães deles. De vez em quando aparecia uma beata que pedia a todos que se dessem as mãos, formando um círculo ao redor do “lenho santo” rezando uma Ave Maria e um Pai Nosso. No fundo era uma versão urbana da dança da chuva praticada por tribos indígenas. Hoje em dia o rádio e a televisão anunciam diariamente a previsão do tempo. Nem sempre essas previsões são corretas, mas de uma maneira ou de outra, a população ainda acredita nelas. Tal qual o costume de ter imagens de santos em casa, a crença de levar água ao cruzeiro pedindo chuva, bem como outras tradições religiosas foram saindo do cotidiano da população e pouco a pouco vão se perdendo no tempo. 

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