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15/10/2017

Cantinho da Saudade

Imagem/Arquivo Pessoal
Detalhes Notícia

Memórias do Carboni: Última sessão do cinema

Num certo domingo, meus filhos, ainda pequenos, pediram que eu os levasse ao cinema para assistirem o filme “O Rei Leão”, o que aceitei prontamente. Fazia já tantos anos que eu não adentrava aquele prédio, e, naquela noite eu constatei que a parte física dele estava tal qual era antes. E era inevitável que velhas recordações fossem chegando devagarzinho, lembranças do tempo em que íamos ao cinema religiosamente três vezes por semana. Na quarta-feira havia uma programação com preços quase pela metade do preço dos outros dias. Era preço único para homens e mulheres, e, era conhecida como “sessão do pão duro”, mas eram filmes bons e o cinema lotava. Depois íamos aos sábados e domingos, isto se o filme não fosse o mesmo. Geralmente eram filmes diferentes, a não ser quando vinham os grandes recordes de bilheteria da época, tais como “Os Dez Mandamentos”, “Bem-Hur”, “Hatari” e outros que ficavam vários dias em cartaz, e, nessas ocasiões as filas eram enormes, muitas vezes dobrando a esquina da OCEU. Íamos, de preferência, na segunda sessão, já que todos da turma jogavam no time do Fátima e as vezes chegávamos tarde dos jogos, e, também porque gostávamos de ficar na praça até às 21h30, quando começava a segunda sessão. Os primeiros da turma que entravam se dirigiam de imediato ao banheiro, onde através do vitrô, jogavam as carteirinhas de estudante aos que estavam do lado de fora esperando, já que esta carteira dava ao seu possuidor o direito de pagar apenas meio ingresso. Era preciso aproveitar o tumulto e o empurra-empurra das filas para que o porteiro não notasse a diferença da foto da carteira com a cara do portador. Um estratagema usado era colocar o dedo polegar tapando metade da fotografia e além do mais, com aquele alvoroço de gente querendo entrar o quanto antes para pegar os melhores lugares, inibia qualquer tentativa do porteiro de conferir as fotos. Alguns rapazes usavam um velho ardil para não pagar o ingresso para suas namoradas. Diziam a ela no sábado ou mesmo durante a semana, que devido a um problema qualquer, ele chegaria mais tarde ao encontro e para não correr o risco de ficarem sem lugar para sentar, ela deveria entrar na frente e guardar um lugar para quando ele chegasse. Muitas vezes o rapaz ficava escondido nas imediações, observando a garota, e, quando ela entrava ele esperava alguns minutos por ali e aí sim ele também entrava no cinema a procura de sua amada, na maior cara de pau. Já na sala de espera a preocupação de muitos era pegar o folheto “Cine Jornal”, onde trazia a programação da semana seguinte, a letra de uma música de sucesso do momento e também, é claro, algumas fofocas e piadas. Sempre havia um pacote deles sobre o balcão de vendas de balas e tinha gente que pegava até quatro ou cinco folhetos. Algumas vezes eles eram distribuídos ainda na portaria, apenas um para cada pessoa. Quem pensava que estava livre das filas logo que passasse pela portaria, estava enganado. A não ser que fosse diretamente para a sala de projeção, o cidadão teria de enfrentar fila para comprar bala, para tomar água e até para usar o banheiro. Na fila para tomar água, os que ficavam para o fim tomavam água quente, pois o pequeno bebedouro elétrico não dava conta da demanda. Havia pessoas que não tinham sossego nem dentro do cinema, passando de uma poltrona a outra, ou então ficavam circulando pelos corredores. Quando iam se dar conta, o cinema já estava praticamente lotado e elas tinham de se contentar em sentar em qualquer lugar, geralmente nas beiradas ou ficar de pé encostadas nas paredes. Nossa turma ocupava uma fileira inteira. Já naquela época, havia aquele pessoal que gostava de agitar e era um tormento para os lanterninhas. Esses elementos eram os responsáveis pela segurança e ao primeiro sinal de bagunça eles acendiam e apagavam suas lanternas, e, quando descobriam o autor da bagunça ou do palavrão, o advertiam, e se fosse preciso o “convidavam” a sair. As vezes o acende e apaga das lanternas era tão intenso que o apelido desses homens mudou para “vagalume”. E motivo para gozação não faltava. Cenas de sexo, filmes velhos, remendados ou cortados pela censura e até barata ou algum morcego que passava voando pelo foco do filme. O Frajola sempre dormia da metade do filme em diante e ao final da sessão ninguém o acordava, deixando essa função para os funcionários do cinema, só que não era o único, havendo muitos outros. Ficávamos do lado de fora esperando e minutos após o cinema ter-se esvaziado lá vinha nosso colega esfregando os olhos e resmungando por não o termos acordado antes. O duro era passar metade do trajeto de volta para casa contando-lhe o final do filme. Foi muito bom meus filhos terem me convidado, ou melhor, me intimado, que eu os levasse ao cinema e eu ter aceitado, pois tivemos a oportunidade de participar de um fato histórico. Triste, mas, histórico, porque aquela foi a última sessão do Cine São Joaquim. Era o dia 7 de agosto de 1994. Na foto, da esquerda para a direita: Amir, Bijú, Frajola e PC. 

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