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13/05/2018

CANTINHO DA SAUDADE

Imagem/Arquivo Pessoal
Detalhes Notícia
Na foto um “aquecimento” antes do jogo no bairro do Moinho de Vento

Memórias do Carboni: Transformações no campo – parte II

Continuando a narrativa da vida em uma propriedade rural, a diversão era feita lá mesmo na forma de futebol já narrado anteriormente, com bailes na tuia várias vezes ao ano, principalmente em épocas juninas e até quermesses homenageando o santo ou a santa padroeira do local. Na capela tinha missa, batizado e até casamento. Só que de um dia para outro tudo mudou. O governo, que já não dava lá muita importância à agricultura, viu-se pressionado pela alta do preço do petróleo e optou pela implantação do projeto “Pró Álcool”, financiando com o nosso dinheiro, via BNDES, dezenas de destilarias que era para as pessoas, em sua maioria, ficar rodando a toa com o álcool produzido e açúcar para exportação. Coincidentemente muitas propriedades trocaram de dono através de vendas ou foram divididas entre herdeiros, e tanto os novos donos, bem como aqueles que permaneceram, foram seduzidos com a possibilidade de ganhar dinheiro fácil, pois era só arrendar a terra para uma usina e esperar o pagamento. Não seria preciso se preocupar com aração, adubação, plantio, colheita e venda dos produtos. Nem seria também mais preciso ficar adulando gerente de banco atrás de financiamento a juros baixos. Bastava a assinatura de um acordo com a usina mais perto ou com aquela que pagasse melhor e ficar despreocupado conversando com os colegas no centro da cidade. Como o cultivo do café é muito trabalhoso, a primeira providência foi erradicar os milhares de pés da plantação. Depois foi a vez de parar o plantio de milho, arroz, algodão e outros, fazendo os moradores se mudarem para a cidade em busca de emprego. O arrendamento da olaria não foi renovado e também os oleiros deixaram o local. Devido ao acordo firmado, o maquinário da usina entrou na propriedade e começou a demolição. Conforme o serviço ia se adiantando, grandes sulcos iam sendo feitos e a cana sendo plantada. Casas, tuia, terreirão, campo de futebol, caixa d’água e até a sede vieram abaixo. Só a capela foi conservada, mas não tanto pela religiosidade e sim pela repercussão negativa que ia causar e pela provável bronca que iria levar do vigário da cidade. Em alguns lugares ela só é vista quando a cana está pequena e suas paredes ficavam chamuscadas e enegrecidas pelo fogo do tempo em que as queimadas eram permitidas, tal a proximidade do canavial. A mata foi derrubada durante a noite e enterrada em enormes valas no sistema cemitério para não deixar vestígios. Mesmo assim uma investigação policial notaria as marcas pelo maquinário, só que ninguém se preocupou, ninguém sabe, ninguém viu. Nesse verdadeiro assassinato ambiental foram dizimados ipês de várias cores, jatobazeiros, piquizeiros, aroeiras, gabirobas e centenas de outras espécies, tanto frutíferas, ornamentais e medicinais, que com certeza dariam mais lucro ao proprietário se continuassem vivas e produzindo do que sendo derrubadas. Também foram extintos centenas de insetos, aves e mamíferos, muitas endêmicas da região. Tatú, tamanduá, cotia, capivara e cobras sumiram do mapa e os poucos sobreviventes morreram no meio do canavial, seja queimado pelo fogo, envenenados pelo agrotóxico ou dilacerados pelas colheitadeiras. No barreiro da antiga olaria foram feitos canais de drenagem e o brejo perdeu boa parte de sua área. Na parte que sobrou, “estrategicamente” foram colocadas várias vacas e bois, cujos cascos fendidos maceram o chão, causando erosão que tapam as minas. Conforme o brejo vai secando, o canavial avança. O riacho vai definhando dia-a-dia e os poucos peixes que ainda teimam em ficar, estão doentes e contaminados pelos agrotóxicos que vem com a enxurrada. Alguém pode perguntar se estas ações de corte ilegal da mata, colocar animais domésticos em área de nascentes ou fogo no canavial não são contra a lei e são atos passíveis de multa e cadeia, eu respondo que sim, só que aqui no Brasil a lei não é para todos. Para os figurões é apenas um pequeno detalhe insignificante. Não são multados e quando isso acontece, eles recorrem e não pagam. Então o proprietário pega um velho disco de arado ou um pedaço de tábua e parafusa em um mourão de cerca na entrada da fazenda e olhando todo aquele estrago que ele fez com a devastação da flora e da fauna, ainda tem a cara de pau de escrever “Proibido caça e pesca. Sujeito a multa”. Apenas uma pequena observação final: os proprietários das fazendas vizinhas seguiram o mesmo exemplo e também elas se tornaram canaviais que hoje ocupam uma extensa área do Estado de São Paulo. Você acredita que isto tem alguma relação com o ar seco que respiramos hoje?

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