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CARTA DO LEITOR

20/04/2017

NÓS

Quando eu estava no 2º ano do Ensino Médio, minha professora interrogou os alunos da sala sobre a corrupção, se esse crime era um aparato histórico-cultural ou algo recente que permeava o território brasileiro. Era, então, para dissertar uma redação e responder essa dúvida tão intrigante. 
Tudo que pensei foi nas raízes históricas do Brasil, excepcionalmente no período colonial - compreendido entre os séculos XVI e XIX - e pude notar que a Coroa portuguesa, quando inicialmente “descobriu o Brasil”, não queria habitar a terra, mas também não quis abrir mão. E ficou nesse impasse por uns 30 anos. Após essas três décadas, enviou portugueses para viver no território com a desculpa de que possíveis invasões poderiam ocorrer. O problema é que esses portugueses não vieram de graça, foram agraciados com vantagens para fazer aquilo que não queriam; aí nasce um ambiente propício para corrupção. 
Mais tarde, quando o modelo vigente de colonização não estava dando certo, a Coroa instituiu o sistema de capitanias - de cunho vitalício para quem o recebesse -, oferecendo à iniciativa privada um grande pedaço de terra, além de inúmeros benefícios para que fosse vantajoso sair de Portugal e vir comandar terras no Brasil. Os aristocratas lusitanos escolheram bem quem seriam seus donatários no outro lado do mundo. Essa escolha seletiva e desigual resultou, mais tarde, em formações de estratificações sociais sem mobilidade, com os senhores de engenho dominando o topo e os escravos sendo tratados como propriedade, sem perspectiva de mudança social. Como era um território vasto, mas vazio demograficamente - exceto nas porções litorâneas - e sem segurança adequada, era fácil comandar e corromper os princípios de funcionários públicos que mais tarde viriam a existir
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, é uma estupidez hereditária que foi transmitida pela elite de cada período que o Brasil viveu. A classe dominante é, hoje, homens engravatados que ocupam cargos no Palácio do Planalto e que tentam, a todo custo, manter a barra limpa de toda desfaçatez corrupta a qual se submeteram. É estritamente importante falar de política. Vivemos sob mazelas causadas por pseudo-representantes do povo brasileiro. Representantes estes que julgam si próprios ou, pelo menos, tendem a amenizar suas punições.
A piada da vez é o caso da anistia do caixa 2. O empresário Emílio Odebrecht - pai do herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht - afirmou que o caixa 2 “sempre foi modelo reinante no Brasil”, bem, se um empresário deste nível se presta a um depoimento tão verídico, tento imaginar as coisas que estão escondidas de baixo dos panos e que não saberemos nunca. Vale constar que Emílio atuou na construtora na época do governo FHC... Há muitas coisas para serem jogadas ao vento...
No entanto, há controvérsias sobre a atuação desse esquema de corrupção vigente no Brasil. Os deputados federais tentaram, em setembro de 2016, conceder perdão a esse tipo de ilicitude, argumentando que “coisa do passado fica no passado”. Sim, é isso mesmo. Como se não bastasse, o ex-presidente tucano, Fernando Henrique Cardoso, afirmou, em uma nota publicada em março de 2017, a seguinte barbárie “Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa 2 para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.”, ora, pois, uma pessoa que rouba uma padaria para sobreviver e uma pessoa que rouba uma joia para obter dinheiro não estão cometendo o mesmo crime? Então, a falácia proferida por FHC não tem fundamento lógico (e jurídico) para vir a público como forma de escárnio.
Um paradoxo evidente é nas atitudes amigáveis do ministro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, com políticos tucanos e peemedebistas. Ele tem apoiado a ideia de FHC em separar caixa 2 do bem e caixa 2 do mal. Disse à BBC Brasil “às vezes, a doação é feita às escondidas para proteger as empresas de retaliações por parte dos rivais do candidato. E nem é tão crime assim, é uma irregularidade quase, vamos chamar assim, ingênua”, no entanto, pasmem: em 2015 o STF proibiu doações de pessoas jurídicas em eleições, e Gilmar Mendes esperneou indignado que seria um festival de caixa 2, mas... Caixa 2 não é uma ilicitude “ingênua”? Isso sem contar as festas luxuosas que promove em suas mansões para amigos políticos da base governista... Era pra ser um jurista sério e fidedigno... Era...
Agora, para superar todas essas adversidades, os membros do poder legislativo contam com mais um problema: enfrentar as consequências do retiro de sigilo nas investigações abertas pelo ministro do STF, Edson Fachin, embasados nas delações dos ex-executivos da Odebrecht. Nomes dos mais variados segmentos políticos estão sob investigação, como Lula, Dilma, Serra, Aécio, Aloysio, FHC, Alckmin, Temer, Calheiros, Maia, enfim, uma gama de políticos de elites dos mais diversos partidos, em destaques PT, PSDB e PMDB. Todos encurralados com a perspectiva de se tornarem réus na Operação Lava Jato ou - e eu espero que a Justiça seja feita - terem seus processos arquivados. Os relatores da Previdência, pacote anticorrupção e da Reforma Polítca também estão na lista de Fachin. E o futuro do país? Com quem essas pessoas estão preocupadas? Quem elas representam?
A ideia de ter tirado o sigilo das delações é uma discussão complexa, uma vez que os “espertos” podem anular provas, muito embora esse ato constitucional nos dá uma segurança na questão de transparência política, ao passo que vivemos - ou pelo menos deveríamos viver - em um Estado democrático de Direito. Que estamos todos ferrados, não é novidade para ninguém. Mas a esperança de uma nação civilizada, justa e honesta - e utópica - deve florescer naqueles que são as gerações futuras: nós.

Bruno Rosa, 18 anos, estudante do Colégio Anglo, Penápolis/SP, por e-mail

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