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ARTIGOS
01/05/2025
Literatura Brasileira: em busca de uma identidade nacional

Resumo
Durante quase três séculos a literatura brasileira viveu sob a influência da literatura europeia. Com coragem, esforço e inteligência os primeiros escritores lutaram para que emergisse uma literatura essencialmente nacional. Hoje comemoramos esse sucesso.
Palavras-chave: luta; esforço; inteligência; cultura; independência.
Introdução
A expressão bíblica “escreva num livro” e outras semelhantes aparecem diversas vezes ao longo das páginas da Bíblia. Sem a escrita, os erros do passado podem se repetir. No entanto, temos a oportunidade de aprender com esses erros e corrigi-los no presente, contribuindo para a construção de um futuro melhor. Cito essa expressão bíblica para enfatizar que as letras carregam em si um incentivo divino, representado pela ordem expressa de Deus: “escreva num livro”. A escrita possibilita o diálogo com o passado e registra dados para o futuro. Há quem argumente, que a invenção da escrita teve um impacto muito mais significativo para a humanidade do que a invenção da roda.
Falar sobre o Dia da Literatura Brasileira é um desafio salutar porque a escrita da história de nosso povo forma o registro da construção de nossa língua, valores, cultura, ética, estética e tudo mais que torna o “brasil, Brasil” (DaMATTA, 1998, p. 11), conforme mencionado pelo antropólogo Roberto DaMatta e seu livro O que Faz o brasil, Brasil?
A lembrança do 1º de maio como o Dia da Literatura Brasileira transcende uma comemoração formal; é um momento de consideração à riqueza cultural de nosso povo. Esta é uma oportunidade excepcional para homenagear os grandes escritores, cada um trazendo seu estilo único, suas perspectivas e formas de expressão, consolidando uma vasta produção literária em diferentes períodos históricos. Esses autores são destaques significativos na formação de uma identidade nacional densa e multifacetada. Celebrar essa data é, portanto, celebrar a diversidade e a profundidade da literatura que molda quem somos enquanto nação.
A Luta dos Escritores pela Nação
Uma das obras de referência que nos instrui sobre todo esse processo de formação da literatura brasileira é a consagrada Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos (1959), cujo autor é Antonio Candido. Nesta obra, o autor examina O surgimento da literatura brasileira, evoluindo das influências europeias para uma forma de expressão autêntica e tipicamente brasileira.
Os séculos que sucederam à descoberta do Brasil imprimiram sobre nosso povo a influência de Portugal em tudo o que se produzia em termos literários (AGUIAR,1988. p. 24). O marco inicial das primeiras obras literárias no Brasil, ainda durante período colonial, chamou-se de “literatura de informação”. Seu objetivo era relatar aos europeus as características da nova terra, seu povo, fauna, flora e potencial econômico.
É importante destacar a contribuição significativa dos jesuítas nesse primeiro momento da literatura nacional, embora essa produção tenha sido fortemente imbuída das culturas portuguesa e espanhola. Nesse período, que compreende o início da literatura brasileira despida da cultura nacional, é notável a participação do Padre José de Anchieta que, estando no Brasil na segunda metade do século XVI, produziu textos em português, latim e tupi. Tal personagem icônico é considerado como um dos pais da literatura brasileira por historiadores e críticos literários, como o próprio Antonio Candido (1918-2017), Massaud Moisés (1928-2018), Alfredo Bosi (1936-2021) e José Aderaldo Castello (1921-2011).
José Veríssimo (1857-1916) foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 18. Em sua obra: História da Literatura Brasileira (De Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908) comenta:
Não é, pois, de estranhar que em nenhum dos primeiros cronistas e noticiadores do Brasil, no primeiro e ainda no segundo século da colonização, mesmo quando já havia manifestações literárias, se não encontre a menor referência ou alusão a qualquer forma de atividade mental aqui, a existência de um livro, de um estudioso ou coisa que o valha.
(VERÍSSIMO, 1998, p. 28).
Veríssimo nos oferece duas informações valiosas em sua citação. A primeira afirma que, durante os dois primeiros séculos da colonização portuguesa no Brasil, já existiam manifestações literárias produzidas dentro de nossa nação. A segunda revela a falta de interesse pela publicação desses trabalhos. Essa apatia pode ser atribuída à sombra que a hegemonia portuguesa lançou sobre a literatura brasileira, especialmente nos primeiros tempos do Brasil colonial.
Avançando em suas pesquisas, José Veríssimo destaca um verso do poeta brasileiro Casimiro de Abreu (1839 – 1860), extraído de seu poema Minha Terra. Esse verso aponta algo extraordinário: o clamor dos primeiros escritores por uma literatura genuinamente brasileira, completamente desvinculada da influência europeia.
Todos cantam sua terra
Também vou cantar a minha
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha.
(VERÍSSIMO, 1998, p.18.)
Cassimiro de Abreu, ao declarar “Também vou cantar a minha” – condensa em suas palavras o brado de libertação das sombras da supremacia portuguesa. Embora ele pertença à segunda geração do romantismo brasileiro e seja figura do século XIX, suas palavras relatam a vitória do esforço dos primeiros escritores, cujas produções literárias foram reprimidas pelos colonizadores de nossa pátria.
Gonçalves de Magalhães (1811-1882), considerado o pioneiro do romantismo no Brasil, é mencionado por Flávio Aguiar (1947- ) em sua obra Panorama da Literatura (AGUIAR, 1988, p. 25). Magalhães compreendeu a essência e a forma dos escritores nacionais, identificando as razões pelas quais o sucesso de nossa literatura já começava a ser reconhecido:
Os românticos nacionais adotaram um certo ecletismo estético que acompanharia toda a História da Literatura brasileira. Não amavam o rigor dos clássicos nem o desalinho dos românticos europeus, procurando reunir o que havia de melhor entre ambas as escolas, disse Magalhães em um de seus prefácios críticos.
Nesta citação, que mostra os futuros contornos da literatura nacional, são refletidas a força e a inteligência de nosso povo varonil. A grandeza dos primeiros escritores foi potencializada para deixarem suas marcas nessa luta por uma literatura nacional, pois eles não apenas aprenderam e entenderam a literatura europeia, mas também dedicaram tempo a criticá-la e analisá-la minuciosamente. Depois deste esforço descomunal foi que, posteriormente, deram início à construção de uma literatura brasileira que reuniu o melhor das duas.
As portas da literatura brasileira foram abertas, permitindo que as letras, palavras, poemas, peças teatrais e livros fossem produzidos com a cara e cultura de nosso país. Assim, a literatura nacional começou a ser reconhecida como símbolo da identidade cultural do Brasil. É importante ressaltar que, com o rompimento entre Brasil e Portugal proclamado por Dom Pedro I em setembro de 1822, esse “espírito” de liberdade foi expresso nas obras dos escritores da época, impulsionando mais ainda a marcha galopante da novel literatura libertada dos colonizadores.
O Dia da Literatura Brasileira foi instituído para homenagear a luta destes primeiros autores, que vislumbraram a independência literária muito antes de qualquer brasileiro aspirasse a uma independência monárquica. A data de 1º de maio foi escolhida em homenagem ao nascimento de José Alencar (1829-1877); um dos principais escritores, cujas obras refletem, com profundidade, a identidade, a história e os costumes do povo brasileiro. O sucesso da literatura brasileira recebeu outro importante reconhecimento com a promulgação do Dia do Livro como Lei Federal, um processo que ocorreu durante o governo do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. Essa iniciativa foi realizada na criação da Lei nº 5.191, sancionada em 13 de dezembro de 1966, que visa valorizar a leitura e a produção literária no país.
Ao celebrarmos o Dia da Literatura Brasileira, somos convidados a refletir sobre essa rica história de luta que forma nossa identidade cultural. Este dia nos lembra da importância de valorizar e promover nossas vozes literárias que, por meio de suas produções mostram para ao Brasil e o mundo a diversidade de nosso rico país. Incentivar a leitura e o reconhecimento de nossos autores é fundamental para manter viva a chama da produção literária e, ao mesmo tempo inspirar novas gerações de escritores.
Assim, celebramos o 1º de maio como o Dia da Literatura Brasileira, uma data dedicada àqueles que, com o uso das palavras e suas nuances, trabalham na construção do testemunho de uma época, a literatura que instrui e entretém, contribuindo para o enriquecimento e divulgação da nossa cultura.
Referências Bibliográficas
AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Nova Cultura, 1988.
DaMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Basil? Rio de Janeiro: Rocco, 1984.
VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira: de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908). Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia, 9ª edição, 2000.
(*) Adalberto da Silva Fagundes é Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Reconhecimento do Bacharel em Teologia pelo MEC através da Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina/PR. Master of Divinity pela Cohen University Theological & Seminary em Los Angeles/CA – USA; Doutorado Honorífico pela mesma Universidade. Área de especialização: Apologética Cristã. Autor do livro: Ainda Posso Ser Feliz – Lições Essenciais para a Construção da Felicidade, publicado pela AD Santos – Curitiba/PR. Membro da APEL – Academia Paulista Evangélica de Letras, cadeira 28, cujo patrono é o Pr. José Reis Pereira. Pr. titular da Igreja Batista Boas Novas em Penápolis/SP
Adalberto da Silva Fagundes (*)
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