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10/09/2024
Música Sertaneja: O menino da Porteira, a história por trás do clássico
Amigo amante da música sertaneja hoje vamos conhecer um pouco da história que virou um dos maiores Clássicos da Música Sertaneja. “O Menino da Porteira”.
Canção gravada em 1955, O Menino da Porteira é uma das músicas mais tradicionais do sertanejo raiz. Desde então, foi regravada muitas outras vezes, já virou um filme e é um clássico com uma história e tanto.
Mas qual é a história por trás da música? Afinal, é baseada em fatos reais? E o que fez O Menino da Porteira virar um clássico do sertanejo?
O Menino da Porteira é considerado um cururu, ou seja, possui um ritmo bastante caipira, baseado em letras poéticas e no som de violas caipiras (às vezes, até de batidas de pé). Foi composta por Teddy Vieira e Luis Raimundo e gravada pela primeira vez por Luizinho e Limeira.
Depois, virou uma gravação até frequente: Tonico e Tinoco, Sérgio Reis, Tião Carreiro e Pardinho, Daniel e Michel Teló são só alguns dos nomes que já fizeram sua versão da música. A história ainda rendeu dois filmes, um de 1976 e um de 2009.
E a história que a letra conta, hein? Bom,dizem que a inspiração veio de uma das viagens de Teddy Vieira ao sul de Minas, perto da cidade de Ouro Fino (que é mencionada na música). Numa de suas travessias, Teddy viu um menino, que abriu e fechou uma porteira pra ele em sua passagem.
A história do menino da porteira é real ou não?
Bom, na verdade, o resto da história foi criada pelo compositor, que usou o garoto daquele dia como protagonista da narrativa de sua música. Ou seja, a letra não é totalmente real!
Segundo um amigo do compositor, as músicas de Teddy Vieira eram como fábulas, sempre com uma moral por trás. Por isso, ele se inspirou na curta cena que viu e tornou-a uma história marcante.
Independente disso, não deixa de ser uma grande história contada na canção. O triste é que Teddy não chegou a ver sua música se tornando um clássico e morreu passando por dificuldades financeiras, em 1965. Hoje, o compositor tem uma estátua em Itapetininga – SP, sua cidade natal.
Afinal, foi a versão de Sérgio Reis, gravada em 1973, que fez da música um grande hino do sertanejo.
O significado da letra de “O Menino da Porteira”:
“Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino, De longe eu avistava a figura de um menino, Que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo, Toque o berrante, seu moço, que é pra eu ficar ouvindo”.
Aqui é a parte baseada em fatos reais, né? Ali perto de Ouro Fino, em Minas Gerais, o compositor passeava e chegou a avistar um menino, que lhe abriu e fechou a porteira.
Na área rural, é comum ter porteiras entre uma residência e outra. Quando você vai passar de carro ou cavalo, por exemplo, tem que descer, abrir, passar da porteira e fechar. Por isso, às vezes você pede outra pessoa do lado de fora para abrir.
Já a parte do berrante provavelmente foi criada por Teddy, que queria mostrar mais um lado do menino. E fica bonito: o pequeno garoto gosta do som do berrante e fica feliz de poder ouvi-lo.
“Quando a boiada passava e a poeira ia baixando, Eu jogava uma moeda e ele saía pulando, Obrigado, boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando, Pra aquele sertão afora meu berrante ia tocando”.
Apesar de não terem uma relação tão próxima, o narrador que é o peão de boiadeiro e o menino compartilhavam um momento singelo. Além disso, é interessante como a história é bem contada e descritiva, né? Dá pra imaginar perfeitamente a cena do menino grato pela interação rápida que tem com o boiadeiro.
“Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei, Mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei, Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei, Vendo a porteira fechada, o menino não avistei”.
Agora a narrativa fica mais tensa e cria um certo suspense. Se o menino não está lá na porteira, o que pode ter acontecido? E se machucou tanto o narrador… será que foi algo muito pesado?
Ah, e um detalhe: reparou a preocupação do compositor em ser poético, como um trovador? São versos longos e dá pra ver claramente a diferença entre estrofes, porque cada estrofe tem uma mesma rima para todos os versos. Ou seja, tinha um cuidado estético apurado por parte de quem compôs (que é um sinal da época, também).
“Apeei do meu cavalo e no ranchinho à beira chão, Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão, Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão, Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração”.
Triste, né? A história é uma tragédia de roça e tem esse momento bastante emocionante. O gado, sem dó, tinha tirado a vida do pequeno menino e agora a mãe sofria em seu lugar.
“Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem, Quando passo na porteira até vejo a sua imagem, O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem, Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem”.
Assim, vemos que o narrador sente a falta do menino, mesmo não tendo muita relação com ele. Não tem como não ficar triste pelo pequeno garoto e sua família. Sempre que passa por Ouro Fino, o boiadeiro lembra do menino da porteira.
“A cruzinha no estradão do pensamento não sai, Eu já fiz um juramento que não esqueço, jamais Nem que o meu gado estoure, que eu precise ir atrás, Neste pedaço de chão berrante eu não toco mais”.
Chateado com a tragédia, o boiadeiro leva consigo essa convicção: o berrante tinha que ser tocado para o menino. Por isso, ele jura que não tocará mais o berrante por aquelas terras.
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Amigos semana que vem tem mais sobre a nossa música brasileira, grande abraço
(*) LUIZ HENRIQUE PELÍCIA (Caipirão) tem o programa “Clube do Caipirão” transmitido para mais de 450 rádios em todo o Brasil diariamente. Apresenta de segunda a sábado das 04h às 08h da manhã o programa “Diário no Campo” pela FM DIÁRIO 89,9 de São José do Rio Preto/SP. Caipirão escreve às terças-feiras para o jornal DIÁRIO DE PENÁPOLIS.
Luiz Henrique Pelícia (Caipirão) (*)
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