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ARTIGOS
27/03/2021
O ódio como política
Em uma passagem em seu ensaio sobre a relação entre sentimentos e política, o sociólogo francês Pierre Ansart lança um questionamento perturbador: “o regime democrático favorece ou desfavorece a formação dos ressentimentos?”
Conceitualmente ressentimento envolve uma gama variada de sentimentos tais como rancores, invejas, impulsos vingativos, fantasmas imaginários associados a morte, hostilidades, mágoas, ciúmes e ódios. Quando numa escala individual tais sentimentos são tratados no âmbito da psicologia. No entanto, quando os ressentimentos adquirem contornos mais amplos, ou seja, ganham corpo no coletivo, torna-se um fenômeno sociopolítico.
De todos os ressentimentos coletivos é sem dúvida o ódio o mais assustador de todos em razão dos efeitos destruidores em escala que granjeia, a ponto de se falar em uma história do ódio enquanto prática social. Alimentado por ideologias equivocadas e interiorizado pelos indivíduos, os ódios coletivos estão na raiz de diversos acontecimentos históricos, remotos e nem tão antigos assim. Ódios de classes, ódios étnico-raciais, ódios político-ideológicos, ódios nacionalistas, ódios religiosos estão por trás dos mais diversos conflitos e violências em situações históricas desde a segunda metade do século XX até os dias que correm, culminando em guerras civis, conflitos internacionais, extermínio e genocídio de grupos étnicos.
Os ódios coletivos caracterizam-se pelo compartilhamento de ações de hostilidades entre membros de determinados grupos, movidos por relativa homogeneidade identitária de interesses, visando atingir outro(s) grupo(s) eleitos como inimigos ou causadores de supostas infelicidades, humilhações e sofrimentos, perdas materiais, de prestígio ou mesmo de privilégios. Identificado o inimigo o passo seguinte dos grupos movidos pelo ódio coletivo é a explosão vingativa e fúria destruidora e exterminadora.
No campo da política, os ódios coletivos estiveram por muito tempo associados aos regimes totalitários, à direita fascista ou à esquerda comunista. A estratégia desses regimes era a de mobilizar os grupos sociais por meio de slogans, mensagens veiculadas por meios estéticos e tecnológicos de comunicação, canalizados pelas lideranças políticas, os verdadeiros artesãos dos ressentimentos, que através de suas performances exacerbam o ódio como arma da política. O século XX foi pródigo em matéria desses tipos de regimes e lideranças políticas.
Mas, surpreendentemente, o que se assiste nesse início de século XXI é, a despeito da aparente vitória da ideologia democrática contra os regimes totalitários, o recrudescimento de novas formas de ódios coletivos mobilizados por lideranças políticas que se utilizam justamente de mecanismos democráticos para chegarem ao poder e logo em seguida alimentam seus seguidores e adeptos com as mesmas estratégias totalitárias com a finalidade de destruírem seus inimigos, ou seja, as instituições estabelecidas.
A democracia moderna se consolidou dentro dos princípios de que até mesmo os descontentes e, por que não dizer, os ressentidos, tem direito à liberdade de expressão. Mas que suas demandas sejam mediadas pelos limites das leis, consensualmente, aceitas por todos. Estaria a democracia preparada para conter, dentro dos princípios das leis e do diálogo, os ataques dos ódios coletivos? O pai da psicanálise, Sigmund Freud advertia que nenhuma sociedade, inclusa as democráticas, seria capaz de eliminar por completo os ressentimentos e, por consequência, os ódios. Acreditar no contrário, seria uma ilusão.
(*) Rubens A. Correa (Doutor em História pela UNESP e professor do IFSP campus Birigui)
Rubens A. Correa (*)
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