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ARTIGOS
11/07/2020
O que há de novo na violência policial
Os recentes episódios de violência policial suscitam a insistência da mídia a repercutir a longeva convicção de que os abusos continuam sendo a regra. A coincidência com a morte do americano que teve seu pescoço imobilizado durante oito minutos pelo joelho de um agente apimentam o noticiário.
Posso testemunhar que a polícia militar de São Paulo é uma das melhores do mundo. A preocupação com formação integral, não somente com as técnicas de policiamento, mas com o reforço da sensibilidade, do humanismo, do serviço e da noção de dignidade humana é permanente.
Todavia, a reiteração de fatos lamentáveis merece reflexão. Primeiro, um soldado é chamado a atender ocorrências quase sempre insólitas. São desentendimentos, conflitos, brigas e confusões em que o uso da força pode ser a alternativa exigida pela situação.
Um soldado é o profissional que tem a seu favor o monopólio do uso de arma. Ele é treinado a atirar, a acertar o alvo. A arma passa a ser uma extensão de seu braço. A maior parte dos que estão na trincheira são jovens. Cresceram assistindo à permanente luta do bem contra o mal e os heróis dos desenhos contemporâneos sabem neutralizar seus adversários.
Eles sabem que não são recebidos com flores. Ao contrário, o mais frequente é a hostilidade. São quase sempre alvo de ofensas, quando não de sarcasmo e deboche, quando se trate de alguém que se considera superior aos demais, em virtude de suas finanças.
O momento vivenciado é de verdadeiro pânico. A ordem é “ficar em casa” e o policial militar tem de enfrentar as manifestações mais inferiores da perversão humana. Prefeririam também estar em casa, junto com a família. Mas precisam ir à luta.
Havia a esperança de que nova gestão viesse resgatar o descompasso remuneratório, o que não ocorreu. Por outro lado, a pregação federal é no sentido da tolerância zero em relação a qualquer ato infracional. Estimula-se o uso e o abuso de armamento. Munição à vontade. Tudo isso tem de perturbar a mente desses jovens. Não se justifica a violência, mas ela é explicável, se todas as circunstâncias forem devidamente avaliadas.
O difícil é convencer a população de que baixíssimo o índice de militares que se afastam da conduta protocolar, deixam a ética de lado e concorrem com a criminalidade, servindo-se de suas táticas.
Impossível também deixar de olvidar que são muitos os militares mortos em confronto. É da mais singela experiência psicológica a reação de quem pode ser vítima do crime organizado: ou ele, ou eu!
Tudo contribui para que a Polícia Militar bandeirante, a melhor do Brasil, passe por momento de fragilidade, que não invalida o seu legado de notáveis ações garantidoras da ordem pública.
Cumpre não esquecer que o policial militar é aquele servidor estatal que promete defender a comunidade ao preço da própria vida, se preciso for. É urgente resgatar o óbvio: a polícia é povo, existe para o povo. Quem não gosta da boa polícia é porque escolheu a ilicitude como forma de vida.
(*) José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020
José Nalini (*)
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