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ARTIGOS

21/06/2020

Ódio, a simetria do amor

O verbete “ódio” é um dos mais utilizados na recente fase da turbulência brasileira. Incorporou-se até em despachos judiciais a expressão “Gabinete do ódio”. Não é difícil compreender por que isso acontece.. A emanação da intolerância raivosa, a nítida fronteira entre “amigo” e “inimigo” despertou os instintos animais que a civilização tentou domar durante milênios. Sem grandes êxitos, reconheça-se. 
O ódio é uma paixão simétrica à do amor. São dois polos – e polarização é outra palavra da moda – que se manifestam de forma passível de ser considerada irracional. Mas enquanto a humanidade se envergonha de mostrar amor, solta as rédeas do ódio, que fustiga livre e impunemente as relações. Não deveria existir no governo, cujo mandamento se chama Constituição da República. Ali se determina que a administração pública seja, além de legal, também impessoal. A neutralidade da Administração não abriga espaço para manifestações odiosas. 
Dir-se-á que os animais também são prova de que essas explosões são peculiares aos seres vivos. Mas é diferente. o homem violento, quando não é inimputável por insanidade, escolhe o mal enquanto projeto. Por isso é que longa aceitação, provinda da teologia tradicional, indica a violência como obra do diabo. É o demoníaco por excelência. 
Parecem cobertos de razão os que atribuem a Belzebu essa influência sobre os homens. Tanto que só os homens são capazes de torturar suas vítimas. Isso não acontece com os animais que nós chamamos irracionais. 
Luc Ferry, num livro que propõe uma nova leitura para a sociedade no século 21, “A Revolução do Amor”, observa que o humano, “quando seu projeto é o mal, quando ele tortura gratuitamente, ele excede toda a lógica natural. seus gestos se tornam, em sentido próprio, excessivos, inúteis, quase incompreensíveis, se comparados com qualquer objetivo “racional”. Eles só têm sentido numa perspectiva efetivamente demoníaca, aquela que consiste em fazer o mal pelo mal, em causar sofrimento pelo prazer de fazer sofrer”.
A crueldade dos seres racionais é constante e se sofistica. O paradoxo é que a mesma pessoa tem condições de escolher entre o bem e o mal. Luc Ferry afirma que os olhos dos homens permitem que neles decifremos “o pior e o melhor, o mal absoluto e a generosidade mais surpreendente. É esse excesso que Pico Dela Mirandola e Jean-Jacques Rousseau chamavam de liberdade. É ele que permite que o apego instintivo se torne amor, que a agressividade natural se transforme em ódio”.
A concepção do filósofo francês é otimista. Ele acredita que o advento do matrimônio por amor, não por interesse, trouxe algo novo à espécie, que é o incontido amor de pais pelos filhos e, o que não é raro, o amor dos filhos por seus ascendentes. 
Se existe um amálgama afetivo a vincular seres da mesma família de sangue, não seria impossível a toda a grande família humana desmentir Maquiavel, Hobbes e até Alexis de Tocqueville e dar origem a outra lógica, aquela da simpatia. No espaço público, ela é chamada fraternidade. E fraternidade passou a ser categoria jurídica, desde que o constituinte de 1988 a mencionou no preâmbulo da Constituição Cidadã.
Há justificativas bem consistentes para que o ódio na Administração Pública dê lugar à impessoalidade. Não se deve perder de todo a esperança de que o egoísmo, a insensibilidade, o narcisismo e outros nefastos “ismos” cedam espaço para a utopia da fraternidade. 

(*) José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020

José Nalini (*)



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