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ARTIGOS

06/05/2020

...e o Corvo disse: Nunca Mais!

Cassandra foi, segundo a mitologia grega, uma princesa troiana. Muito linda, atraiu o afeto do deus Apolo que lhe concedeu então o dom da profecia, desde que ela cedesse aos seus desejos. Cassandra acabou não cumprindo sua parte do acordo e, frustrado, Apolo então a castigou: o deus cuspiu em sua boca e daí em diante ela passou a só profetizar coisas ruins. Por causa disso, e por isso mesmo, era vista como uma figura agourenta e má vinda, afinal quem quer por perto alguém a todo tempo prevendo tragédias e notícias desagradáveis? Mesmo tendo mais tarde profetizado a Queda de Tróia, a princesa amaldiçoada virou sinônimo de gente pessimista que, razões e motivos à parte, só se afeita ao pior porvir e daí o termo Boca-de-Cassandra popularizou-se negativamente História afora. 
Em tempos atuais de pandemia, Bocas-de-Cassandra disseminaram-se como o coronavírus. Alguns políticos e cientistas e mesmo gente comum passaram a prever um futuro catastrófico para a Humanidade daqui em diante. Ainda que uma grande outra porção e às vezes até um número maior de políticos e cientistas e mesmo gente comum diga o contrário, que tudo se normalizará, a índole humana tende à perspectiva da tragédia e então para muita gente esperar e torcer pelo malfeito é mais sedutor e perversamente prazeroso que almejar pelo que de bom aconteça. 
Assim, há quem prefere divulgar e acreditar que o mundo em geral nunca mais voltará ao mesmo pré-pandemia. Que o mundo como conhecemos antes acabou, pronto, acostumem-se e lamentem! Como crocita ad infinitum o célebre Corvo literário de Edgar Allan Poe no poema gótico homônimo, eles gritam: Nunca Mais! Nunca mais as pessoas viajarão, nunca mais irão ao cinema, nunca sentarão para comer em restaurantes, nunca mais se hospedarão num hotel, nunca mais visitarão um museu ou galeria de Arte, nunca mais cumprimentarão com beijo e abraço, nunca mais farão festas de formatura, casamento, aniversário, batizado, churrasco com amigos, nunca mais voarão de avião, nunca mais irão a um estádio de futebol, nunca mais assistirão a um show ao vivo, nunca mais entrarão numa loja prá comprar sapato, nunca mais nunca mais! Se já é terrível ter por perto alguém quem só prevê fatalidades possíveis, imagina ter que ficar ouvindo ou lendo Bocas-de-Cassandra cuspindo tragédias baseadas em suposições e achismos... 
Quem chafurda nessa lama esquece ou faz de conta que não sabe (ou não sabe mesmo, porque algumas dessas pessoas além de más também são terrivelmente ignorantes) é que a Humanidade já passou por crises semelhantes e até piores. Às vezes voltou à dita normalidade até melhor do que entrou! Após a Peste Negra, por exemplo, na Idade Média, ressurgimos com o Renascimento. E quanta evolução e tecnologia desenvolveram-se desde o fim da Gripe Espanhola, no começo do século passado. No Brasil, aliás, diz-se que o fim do recolhimento da Gripe Espanhola coincidiu com o Carnaval e o povo logo tratou de sair às ruas alegre, feliz e, com a tradicional ironia brasileira, entoando marchinhas satirizando as mazelas da doença passada.
Nesse exato momento várias cidades do mundo estão com iniciativas de retorno à normalidade cotidiana. A China, o Japão, países europeus como Itália, Espanha, Portugal e França retomam as atividades comerciais, escolares, institucionais. Mesmo que aos poucos e com restrições, calçadões, parques, ruas começam a ter fluxo intenso de pessoas. Nos Estados Unidos (Texas, Nova Iorque, Califórnia...) cinemas e restaurantes começaram a voltar à normalidade e praias enchem-se de banhistas. O mesmo na Austrália, onde uma das primeiras coisas que jovens fizeram após o fim da quarentena no país foi lotar o mar para surfar. E onde ainda o recolhimento é regra e riscos à parte, o normal insiste em persistir - para o ódio de quem almeja o contrário: nas periferias de algumas cidades os pequenos comércios funcionam, bailes funks e rolês de jovens ocorrem com multidões..., por todo lado supermercados, postos de combustíveis, empresas de construção civil, açougues, indústrias, meios de transporte coletivo e outros serviços considerados essenciais sequer fecharam! Até bandido já retorna à normalidade, semana passada teve quadrilha roubando banco com explosivos em Ourinhos e usando cidadãos como escudo, como era “normal” antes da pandemia.
Ter afã de retorno à normalidade não é um desdém para com a doença, para quem ficou doente, morreu ou pode vir a morrer. Como disse, inúmeras tragédias tão terríveis ou até mais terríveis, mais mortais e ameaçadoras para a nossa civilização já transcorreram e sobrevivemos para contar a História, o problema dessa é estar acontecendo num mundo onde o excesso de informação transtorna e perturba gente suscetível à melancolia, ao rancor e ao desespero que, por sua vez, tenta aliviar sua mente catastrófica transtornando e perturbando o maior número possível de pessoas via suas redes sociais. 
Um fator importante, talvez o mais importante: essa gente pessimista também desdenha o valor do gênio humano. Agora mesmo ao redor do mundo, dezenas de laboratórios correm para descobrir uma vacina contra o coronavírus (se é que ela já não existe escondida na China, só esperando a boa oportunidade de lucrar enormemente no comercio mundial). Bilionários como Bill Gates doaram bilhões de dólares para as pesquisas e há ensaios, promessas e até testes em pleno desenvolvimento. Em breve deveremos estar todos imunizados, sadios e tudo será um pesadelo ruim e passado. Então sejamos otimistas, cordiais, bondosos, gentis..., compartilhando esperança e não medo, pois tudo passa, até uva passa! E, claro, não há mal que dure para sempre.

(*) Paulo de Carvalho é formado em História, ex-jornalista e hoje atua na área da Gastronomia

Paulo de Carvalho (*)



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