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ARTIGOS

07/11/2019

Homem: bicho estranho

Por que temos de enterrar ou cremar nossos mortos? Ambos rapidamente? Porque somos feito de matéria que se putrefaz. Poucas horas bastam para que sintamos odores estranhos, rigidez cadavérica, modificação evidente da coloração física e nos resignemos a proceder ao sepultamento. Por mais querida seja a pessoa falecida. É um comando inapelável, ao qual nos curvamos subservientemente. 
Ao contrário do corpo humano, aquilo que os humanos criam não apodrece facilmente, nem se dilui na atmosfera. Este jornal que você está lendo, ou a embalagem de papel do seu pão, demora de duas a seis semanas para se decompor. Uma casca de banana leva três semanas. O papel toalha ou o papel higiênico precisa de três meses e os restos de alimentos de três meses a dois anos. 
Seis meses é o período de decomposição do hashi de madeira, um ano para as roupas e sapatos com fibras naturais. O filtro do cigarro, vício que mata e tão forte que as pessoas preferem acabar com seus alvéolos, desconhecem o sofrimento da agonia dos fumantes que contraem câncer no pulmão, raramente conseguem deixar de sorver, é algo que precisa de dez anos para ser assimilado na natureza.
Mas o rol continua e cada vez maior o tempo necessário para que os dejetos de nossas criações venham a se confundir com o natural e já não agridam o ambiente. Treze anos é o tempo necessário para a absorção da madeira pintada. Vinte anos para a camisinha, ou proteção utilizada por quem mantém relações sexuais e não quer assumir riscos de gravidez ou de já deixar o encontro contaminado por uma doença sexualmente transmissível ou pelo vírus HIV.
As aparentemente inofensivas sacolas plásticas e sacos de lixo consomem de trinta a quarenta anos para a dissolução. Mas as roupas e sapatos com fibras sintéticas só vão ser integradas ao ambiente depois de um século. O mesmo tempo exigido pelas embalagens de xampu, as do leite ou suco longa vida. E o canudinho plástico, tão inocente nas festas infantis, para uso de alguns minutos, sobrevivem a contaminar o ambiente por duzentos anos.
O uso indiscriminado das fraldas descartáveis leva a orgulhosa mamãe a desconhecer que esse produto que substituiu a velha fralda de tecido – que trabalho ter de lavar, se é tão fácil usar fraldinha descartável perfumada, que depois coloco no lixo doméstico ou, simplesmente, jogo no terreno baldio mais próximo ou em algum curso d’água que, mesmo biologicamente morto, continua a me servir – tem um prazo de 450 anos! O mesmo das garrafas de plástico usadas para água ou refrigerante. Só inferior ao milênio necessário para que se desfaça a lata de alumínio. Campeã, mesmo, é a garrafa de vidro, que não desaparece senão depois de dez mil anos!
O ser humano, tão inteligente para criar tudo isso, não tem mostrado o mesmo tirocínio para enfrentar primeiro, as fórmulas de dissolução compatíveis com a tutela ambiental. Depois, para exigir a logística reversa: por que não encarregar quem produz esse “bem” de se encarregar de seu destino depois de utilizado? Terceiro, de educar as gerações para que não continuem a fazer deste frágil planeta, um cisco perdido num sistema solar de quarta categoria, num cosmos ainda por nós desconhecido, uma imensa lata de lixo?
Talvez a fragilidade do corpo humano seja extensível à consciência leniente dos humanos. O cérebro é o que preside à vida. Ao deixar de funcionar, apodrecendo de imediato, não se dá conta de que está a gerar um planeta envenenado. Que continuará a existir durante um tempo. Mas que prescindirá da espécie humana para tanto. 

(*) José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, Docente da UNINOVE e autor de “Ética Ambiental”, além de Presidente da Academia Paulista de Letras – 2019/2020

José Nalini (*)



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