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ARTIGOS

14/08/2019

Religião e política partidária

Se tem algo que tem me incomodado em todas as eleições é a interferência da religião na política partidária. Quando eu morava em Jundiaí e era militante e dirigente do PT, na eleição para presidente no ano de 1989, tive uma experiência muito desagradável com uma religião evangélica, atualmente, a mais poderosa no meio, com ramificação em vários países.
Esta religião tinha um jornal bem diagramado que era distribuído periodicamente por toda cidade. A exemplo do que ocorreu no ano passado quando apoiou o atual presidente da república Bolsonaro no ano de 1989, no enfrentamento com o Lula, esta religião distribuiu casa por casa na grande São Paulo o jornal deles com a manchete: “O diabo é cabeludo, tem a língua presa e não tem um dedo”.  
Jundiaí foi uma das cidades “premiadas”. Num sábado, logo pela manhã, uma semana antes da eleição no segundo turno, fui apanhar os jornais que assinava e me deparei com este jornal horroroso. Diante do fato, dirigentes do Partido começaram a telefonar um para os outros muito revoltados e marcamos uma reunião emergencial no Diretório Municipal e decidimos dar o troco. Reunimos aproximadamente uns 50 militantes e com um caminhão de som potente fomos até a frente da Igreja deles para protestar atrapalhando o culto.
Naquela época eu era católico e assíduo militante dos movimentos pastorais. Assim, conhecia o Evangelho suficientemente para, por exemplo, conhecer o posicionamento de um verdadeiro cristão diante dos mistérios de Deus. Entendia claramente que Jesus Cristo, em razão da sua fé e compromisso libertador com os mais pobres, morreu assassinado a mando dos poderosos governantes e religiosos na época. 
Diante desta humilde sabedoria não entendia, de maneira alguma, porque uma religião que se denominava seguidora de Jesus Cristo usava o seu poderoso jornal e púlpitos das suas igrejas para fazer campanha para Fernando Collor de Mello, tido como fiel representante da classe rica, dona dos Bancos, latifúndios, grandes empresas. Ele era o fiel defensor dos interesses dos Estados Unidos no Brasil.
Decorridos quase 30 anos e na eleição presidencial no ano de 2019 vi tudo se repetir, só que desta vez envolvendo a maioria absoluta das religiões cristãs denominadas evangélicas. Deixo clara o a minha discordância do envolvimento político-partidário das religiões nas campanhas eleitorais. Está dando para perceber o interesse da denominada “bancada evangélica” quando se envolve com esses governos tidos como liberais ou neoliberais? É puramente econômico.
A bancada evangélica pretende incluir na reforma tributária em discussão no Congresso o impedimento que a Receita Federal não aplique multas por infrações à legislação tributária. É sabido que as entidades religiosas têm imunidade tributária garantida pela Constituição Federal. Elas não pagam nenhum tributo. Descontentes, elas não querem ser fiscalizadas e atuadas quando cometem alguma irregularidade como, por exemplo, uma obrigação assessória prevista em lei. Isso tem gerados Autos de Infração com multas no montante aproximado de R$ 50 milhões por ano. 
É preciso saber que, nos últimos anos, proliferou no Brasil religiões usadas até para lavar dinheiro da corrupção. É rotina, por exemplo, uma igreja comprar veículos para serem usados particularmente pelos seus membros. Tem até aeronaves apreendidas por estarem envolvidas na evasão de divisas mediante transporte de mercadorias contrabandeadas e até drogas. É também rotina elas não apresentarem ao fisco as suas informações contábeis.
Sou contra a concessão a imunidade que a Bancada Evangélica pleiteia , ou seja das Igrejas não serem multadas quando não descontam Imposto de Renda na Fonte ou contribuição previdenciária dos que  prestam serviços a ela. Não entendem que tais contribuições não são delas, mas dos prestadores dos serviços. Isso pode até caracterizar crime de apropriação “in debita” e pode ser objeto de representação criminal ao Ministério Público Federal.
Penso, finalmente, que é preciso separar o Reino de Deus, do Reino dos seres humanos. Tem que dar a Cesar o que é de Cesar, como nos ensina Evangelho (João 18:36) e (Mateus 22:21). Não se pode misturar política partidária com a religião. No entanto, as Igrejas e seus membros, principalmente os pastores e demais dirigentes, têm o dever cristão de incentivarem a convivência social lutando por direitos e oportunidades iguais para ricos e pobres no mundo dos seres humanos. 

(*) WALTER MIRANDA é Presidente do Sindifisco Nacional - Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal/Delegacia Sindical em Araraquara, Pós-graduado em Ciência Contábeis pela PUC/SP, militante da CSP-CONLUTAS-Central Sindical e Popular. Escreve as quartas-feiras para o DIÁRIO - E-mail: wm@sunrise.com.br

WALTER MIRANDA (*)



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