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ARTIGOS
30/06/2019
Aprender a cobrar
O povo mostrou que sabe o que quer para o Brasil. Cansado de corrupção, de políticos hipócritas, de falcatruas e de achincalhe, mandou um recado à política profissionalizada e rasteira.
Não foram banidos todos os que precisavam sair de cena. Ainda há nichos dominados pelo jeito coronelista de imposição da vontade à massa pouco esclarecida. Mas os sinais são eloquentes. Basta de velhacaria! A República precisa de paz para devolver a esperança a um povo desiludido.
Recado dado. Mas isso é suficiente?
Obviamente que não. A tragédia brasileira é resultado de uma conjugação de fatores. Em nome de uma liberação de costumes, aboliu-se o mínimo de compostura, vetou-se a polidez, inibiu-se o cultivo de valores que alicerçaram uma sociedade que já foi melhor há algumas décadas. Temas como patriotismo, honradez, probidade, sacrifício, esforço pessoal, empenho empreendedor, iniciativa e criatividade cederam espaço a outras expressões. Paternalismo, tutela, curadoria permanente, dependência absoluta ao governo e ao poder.
Parcela significativa da população deixou de investir nos atributos pessoais que são os talentos com que cada ser humano chega ao mundo. Tudo passou a ser obrigação do Governo. Para controlar a massa que deixou de levar a educação a sério, desistindo de fornecer no lar as primeiras noções de convívio saudável, o Estado descuidou da educação de qualidade. Universalizou o acesso a uma escola que não ensina. Desprestigiou os profissionais da educação, reduzindo-os a uma categoria mal remunerada, desrespeitada e sofrida.
Há muito a se reconstruir na cultura de inércia a que o povo foi lançado. Democracia é o governo da maioria, mas de maioria participante. Não pode ser maioria passiva, conformada e ávida por merecer do Estado as migalhas que sobrarem do festival de gastos desnecessários, empregados para sustentar uma estrutura inflada e quase sempre estéril.
Democracia Participativa dá trabalho, mas é a única ferramenta de aprimoramento contínuo do Estado. Instrumento a serviço do povo, único titular da soberania, não o destinatário de honras, de rapapés e de servidão em troca do mínimo para uma subsistência miserável.
Comecemos por cobrar compostura, trabalho, produtividade e coerência àqueles que elegemos. E introduzamos o “recall”, para poder cassar mandatos em pleno curso, se eles não corresponderem às nossas legítimas expectativas.
Estamos aprendendo a votar. Aprendamos também a cobrar dignidade dos eleitos. E formemos uma geração que considere a política um ônus, um serviço, uma nobre doação em favor da Pátria, não uma lucrativa profissão, que usufrui de benesses e custa muitas vidas a uma cidadania desprovida de quase tudo. Mas que mostrou ser capaz de reagir e de mostrar que quer um outro Brasil. Uma Pátria de que se possa orgulhar e não se envergonhar.
(*) José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário da Uninove e Anchieta e autor de “Ética Geral e Profissional”, 13ª ed., RT-Thomson Reuters
José Renato Nalini (*)
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