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ARTIGOS
26/05/2019
A morte ronda as BRs
O trânsito brasileiro mata, a cada ano, muito mais do que o total dos mortos na Guerra do Vietnã. Entretanto, isso não causa indignação, não motiva manifestos, não gera ira. Quantas as famílias destroçadas porque perderam pais, mães, filhos?
A opção errada de quem preferiu rodovias em lugar de ferrovias ou hidrovias está custando caro em vidas humanas. Com reflexo na produtividade e no acerto de contas de um Brasil que tinha tudo para se tornar modelo de Democracia e se converteu numa terra infeliz.
O DNIT investiu 41 bilhões nos últimos doze anos em conservação de estradas. O investimento mínimo deveria ser de 500 bilhões. Quantia consumida no propinoduto desavergonhado que contaminou toda a estrutura da Administração Pública Brasileira. Em todos os níveis.
Os roubos de carga ocorrem a cada vinte minutos. Mais bilhões perdidos. As seguradoras sequer aceitam os contratos com as transportadoras, tantos os riscos nessa atividade perigosa. Os caminhoneiros continuam a sofrer com assaltos, estradas péssimas, tanto que há várias pelo Brasil chamadas “estrada da morte”, “estrada do inferno”, “estrada do fim de mundo”.
A falência da Administração Pública está na ineficiência de praticamente todos os serviços. A iniciativa privada é que tem de suprir o despreparo do Estado, totalmente aparelhado entre os apaniguados. A política partidária virou profissão e tem de abrigar milhões de inservíveis que, não fora a pletora de cargos em comissão, estariam em dificuldades de sobreviver. Ao menos de sobreviver com dignidade.
Ante o colapso do Governo, a cidadania é que tem de assumir as rédeas. Ainda faz muito pouco. Mas já existem exemplos louváveis. O movimento SEVOR é um deles. Cidadãos de Minas, cansados de verificar que o poder público não atendia aos infortúnios ocorridos no trecho de rodovia federal considerado o mais perigoso do País, criaram o Serviço Voluntário de Resgate. Com seus próprios meios, a contribuição de quem se condoeu com a situação de descalabro, adquiriu-se ambulâncias, carros de resgate e com a cessão de um espaço por um proprietário de posto de gasolina, instalou-se um espaço.
Apenas voluntários oferecem, há dezoito anos, algumas horas por dia ou por noite, para ficarem de vigília, à espera de que um acidente ocorra. E eles efetivamente ocorrem. Durante esses dezoito anos, mais de 21 mil vidas foram salvas.
Verdade que ainda é pouco para um Brasil cheio de estradas, muitas delas perigosas e abandonadas pelas próprias concessionárias. Pelas mais diversas razões. Não houve a lucratividade esperada, a crise tornou o movimento deficitário, mas também há o indefectível comportamento de má-fé, daquelas que não cumprem o acordado.
Seja como for, a cidadania tem de acordar e assumir o controle de algumas políticas públicas frágeis e deficitárias como essa da conservação das estradas de rodagem. Exigir investimento em ferrovias. Para descontar a paralisação do setor que seria uma salvação do País. Há mais de cem anos, contamos com a mesma malha ferroviária de 29 mil quilômetros. Cerca de 30% deles intransitáveis.
É urgente a conscientização coletiva de que os combustíveis fósseis vão acabar. E precisam acabar antes do esgotamento de suas reservas, porque estão envenenando o mundo e acabarão com a vida no planeta. O trem é um transporte não poluente. Assim como o transporte por hidrovias. Mas é o povo que deve dar o tom aos políticos. Eles estão desprestigiados, não conseguem enxergar que o mundo mudou e não atuarão se não forem cobrados, fiscalizados e extirpados da vida pública se não atenderem aos reclamos dos representados.
(*) José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Uninove e Padre Anchieta, autor de “Ética Geral e Profissional”, 13ª ed., RT-Thomson Reuters
José Nalini (*)
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