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ARTIGOS

12/09/2018

Como desejar qualidade de vida com trabalhadores mal remunerados?

No trajeto de Jundiaí (SP) para Ribeirão Preto (SP), no último dia 08, um sábado, com o objetivo de abastecer o carro, tomar um café e descansar por alguns minutos, parei num conhecido restaurante nas imediações do município de Pirassununga (SP), o qual, aliás, integra um grupo com 46 unidades no Brasil. Os estabelecimentos da prestigiada rede são os preferidos do público pelo conforto das suas instalações, principalmente pela limpeza dos banheiros. Os preços praticados, entretanto, superam, e muito, o que seria razoável. O apresentador de TV Gugu Liberato, cujo nome é Antônio Augusto de Moraes Liberato, é um dos sócios importantes em restaurantes daquela organização. 
Como o movimento estava calmo, resolvi conversar com um dos gerentes sobre o possível reflexo da crise econômica nas vendas da loja, pois percebi um público bem menor que o visto em outras oportunidades. O dedicado gerente demonstrou-se desolado com as expectativas de faturamento. Obrigado a alcançar metas ambiciosas estabelecidas pelos gestores nesses feriados prolongados, sentia-se impotente diante do baixo fluxo de pessoas. Ressaltou que as receitas estão com tendência de queda desde 2014, acumulando atualmente algo próximo de 20% (vinte por cento) de redução. 
Conversando com outros empregados soube que o salário médio naquele estabelecimento comercial é R$ 1.400,00 líquidos. No meu entendimento, muito pouco, considerando o tamanho do restaurante e a sua conhecida política de cobrar, no mínimo, 20% mais que outros estabelecimentos do mesmo ramo. 
Uma das empregadas adiantou-se para informar que ganha R$ 1.200,00 líquidos, que é casada e tem duas crianças pequenas. O marido está desempregado e consegue apenas trabalhos eventuais, como, por exemplo, capinar terrenos na cidade de Pirassununga. Residem num imóvel alugado pagando aluguel no valor de R$ 400,00. Para alimentação, gastam mensalmente em torno de R$ 600,00, aqui incluído o vale-alimentação no valor de R$ 160,00 que recebe no seu trabalho. 
Vejam, caros leitores, que só com alimentação e habitação a pobre trabalhadora do famoso restaurante gasta R$ 840,00 por mês. Assim, sobram somente R$ 360,00 para os demais gastos (saúde, educação, vestuário etc). Questionei-a sobre as refeições no local de trabalho e ela respondeu-me que a empresa desconta mensalmente R$ 55,00 do seu salário. 
Aquela conversa com o gerente remeteu-me ao pensamento do pensador e filósofo Karl Marx: “A propriedade privada é o produto do trabalho alienado”. Com esta frase Marx afirma que a maioria dos trabalhadores não qualificados, alienados, vende a sua mão de obra para os donos das propriedades privadas, que a compra quase sempre a preços vis. Ai surge o conceito da mais valia. Os trabalhadores ficam com a menor parcela da renda. 
No sistema capitalista, segundo Marx, o trabalhador se desconecta dos produtos que cria no momento em que os entrega ao seu empregador. Isso faz com que o trabalhador perca sua identidade. Foi o que vi analisando os papéis dos trabalhadores naquele lindo e famoso restaurante. Os trabalhadores da padaria, por exemplo, fabricavam pães e outras iguarias, mas no final da jornada sequer podem levar um pão para a sua família sem a necessidade de pagar pelo que fabricou. 
A minha grande preocupação é com a qualidade de vida dos trabalhadores mal remunerados no Brasil, um País onde a concentração de renda é uma das maiores do mundo. Quase 30% da renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes do País. É a maior concentração do tipo no planeta. Esta situação crítica é o que indica a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, coordenada pelo economista francês Thomas Piketty. 
Para piorar, acredito que a terceirização encaminhada pelo governo Temer e aprovada pelo Congresso Nacional, assim como a Reforma Trabalhista aprovada em novembro de 2017, tendem a precarizar ainda mais a relação capital e trabalho. Lamentavelmente, a situação dos trabalhadores mal remunerados pelo famoso restaurante indicam que jamais poderão viver com qualidade, tampouco proporcioná-la aos seus dependentes.

(*) WALTER MIRANDA é Presidente do Sindifisco Nacional - Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal/Delegacia Sindical em Araraquara, Pós-graduado em Ciência Contábeis pela PUC/SP, militante da CSP-CONLUTAS-Central Sindical e Popular. Escreve as quartas-feiras para o DIÁRIO - E-mail: wm@sunrise.com.br

WALTER MIRANDA (*)



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