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ARTIGOS

11/10/2017

Nudez artística ou pedofilia?

A performance do coreógrafo Wagner Schwartz, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, tem sido motivo de polêmica. Na apresentação, o artista, inteiramente despido, permite que o público toque e manipule seu corpo. Durante o espetáculo, uma criança foi uma das pessoas a interagir com o artista, e as imagens estão sendo compartilhadas na internet com duras críticas. 
As filmagens mostram o intérprete nu, deitado. Uma criança vai até ele e toca em seu pé e tornozelo, nada mais do que isso. Segundo a direção do MAM, a criança estava acompanhada de sua mãe, o que não aparece nos vídeos. O Museu assegura, também, que em todas as manifestações culturais, cumpre o que determina o ECA, em especial os termos do artigo 252, que exige a fixação, em lugar visível e de fácil acesso, de informações sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação.
O desembargador Antonio Carlos Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo, entrevistado por ser especialista no assunto, disse que, de fato, a performance cultural feriu o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, mas considerou um exagero afirmar que a performance deveria ser tratada como pedofilia. Ressaltou que observados os dispositivos legais, nada justificaria a proibição daquela manifestação artística.
No ano de 1969, a Orquestra do Maestro José Ferreira Leite, da qual era cantor, apresentou-se na cidade de Dourados/MS. Na oportunidade, visitei uma tribo indígena da nação Terena. Fiquei impactado com homens, mulheres e crianças nus caminhando naturalmente pela tribo.  Estas imagens permanecem até hoje na minha memória. Eu estava devidamente trajado e eles nus. Notei, no entanto, a inocência daqueles seres humanos.
Quando adolescente, lembro-me de que éramos proibidos de entrar no Cine São Joaquim, em Penápolis (SP), para assistir aos filmes com famosas atrizes seminuas, como Brigite Bardot. Na vigilância estavam os comissários Toureiro e Zezinho. Percebendo rasuras, a carteira estudantil era apreendida para que fosse enviada à respectiva Escola, o que resultava em punição para o menor. Hoje, entretanto, são outros tempos. Tudo precisa ser cuidadosamente relativizado, sob pena de injustiças.
O que me deixa indignado são as manifestações de políticos oportunistas já visando as eleições de 2018. O Deputado evangélico João Rodrigues (PSD-SC), por exemplo, disse na Tribuna da Câmara que “Um marmanjo completamente nu de mãos dadas com três ou quatro crianças fazia uma apresentação cultural”. Não é verdade. Este deputado, em 2015, durante uma votação importante no Congresso, foi flagrado vendo vídeos com conteúdo sexual da pior espécie. Será que este falso moralista tem credibilidade para criticar uma performance cultural?
Em 2007, a grande imprensa noticiou o caso de uma menina da cidade de Abaetetuba, no Estado do Pará, de apenas 15 anos, que ficou presa durante 30 dias por ter furtado um celular. O pior é que a garota foi colocada numa cela com mais 30 homens. Diante do fato, que foi manchete nos jornais no Brasil e no exterior, não vi deputado evangélico algum pedindo a prisão e a condenação dos verdadeiros culpados pela estupro da criança.
Em março deste ano, relatório produzido por diversas entidades ligadas aos direitos humanos foi entregue à OEA (Organização dos Estados Americanos) apontando o abuso e a violência contra as crianças no Brasil. O Rio de Janeiro, município governado pelo evangélico e ex-senador bispo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus, um dos críticos à performance do bailarino Wagner Schwartz, foi um dos mais denunciados no relatório. Pergunta-se: o que este Governante tem feito em prol das crianças da sua cidade? Nada de relevante, com certeza.
Penso, finalmente, que os deputados evangélicos deveriam se preocupar mais com as exposições das crianças diante das cenas pesadas de sexo nas novelas da TV Globo. Deveriam indignar-se com a programação de baixo nível cultural, de um jornalismo que estimula a violência, conteúdos que predominam na TV Record, emissora mantida por uma religião evangélica. Isso eles não fazem. Afinal, contam com esse “quarto poder” para conseguirem futuras reeleições.

(*) WALTER MIRANDA é Presidente do Sindifisco Nacional - Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal/Delegacia Sindical em Araraquara, Pós-graduado em Ciência Contábeis pela PUC/SP, militante da CSP-CONLUTAS-Central Sindical e Popular. Escreve as quartas-feiras para o DIÁRIO - E-mail: wm@sunrise.com.br

WALTER MIRANDA (*)



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