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ARTIGOS

17/05/2011

Brás Cubas: mediocridade e brilho

Atualmente, no pós-moderno, existem alguns truques para você não se postar diante dos amigos, e até de estranhos, como bananeira indecisa. Se já está próximo da meia idade, nunca diga "vou ler tal livro", "preciso ler tal autor", a menos que seja lançamento recente ou dessas obras que a gente reserva para uma leitura mais acurada, como O Capital, A Divina Comédia, etc. Você deve sempre dizer: estou relendo, estou revisitando, ou revendo uma passagem de... Não faz muitos dias, levantei pensando revisitar o Brás Cubas, mas antes de apanhá-lo na estante, o telefone toca, atendo e...que satisfação! Do outro lado da linha, como se dizia outrora, adivinhem ? Nada menos que a voz, que a simpatia, que a lucidez da minha querida queridíssima, ex-professora e sempre amiga Emília Aniceto.

A Emília Aniceto – que inveja!- essa mulher não para de fazer aniversário, e sempre mais erguida, e lépida, e lúcida. Me cumprimentava por um artigo que eu havia publicado neste espaço. Respondi-lhe, feliz, que já contava com oito leitores, pronunciados.Com ela, nove! E olha que ela não é mais uma leitora, porém uma arquileitora, dessas que valem por cem. E despedi-me da Emília para continuar com o Brás Cubas, aquele das Memórias póstumas, principalmente na passagem em que narra seu próprio enterro. É de se reler a expressão de alegria da personagem ao ver que fora acompanhado ao cemitério por onze amigos. "Onze amigos!"- exclama. Pois foi o que senti quando somei nove leitores. Mas todo este nariz de cera vem a propósito de que mesmo? Ah, sim. Do critico mais devastador de ilusões sem evidências, que é o insuperável Machado de Assis.

Diplomado pela Universidade de Coimbra, Brás Cubas, instado a regressar por causa da grave doença da mãe, é posto à prova pela fatalidade. Morre-lhe a mãe e ele experimenta o vazio de uma formação vazia: "Fiquei prostrado. E contudo era eu , nesse tempo, um fiel compêndio de trivialidade e presunção." Sua formação acadêmica não lhe dera nenhuma muleta existencial, pouca fundamentação teórica e escassa filosofia.

"Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto." E sintetiza de forma lapidar e desoladora: "Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação...".

Para acrescentarmos algo quase desnecessário, basta dizer que Brás Cubas, herdeiro de uma formação ditada pelo receituário e até pela manipulação, sente-se desarvorado ante o que transcende essa fantasia, ou hipocrisia. Ao infeliz Brás Cubas, faltou-lhe o único conhecimento milenarmente reconhecido como aquele que vale a pena, que é o conhecimento que conduz à sabedoria. Assimilado numa dinâmica transformadora do ser, o conhecimento se sedimenta na experiência e na tradição renovada, na vivência e na interiorização de um universo de valores. E é isso que aparelha o homem para o confronto com o inexplicável, para o coice da catástrofe. O conhecimento despojado de sabedoria é como um corpo inerte, que não pulsa, não floresce, não promete. Prometer, no sentido de projeção e efetivação do empenho, é necessário. Hipocrisia e brilho são desnecessárias.

 

(*) José Fulaneti de Nadai, professor

 

José Fulaneti de Nadai



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